quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Plano Nacional dos Direitos Humanos

Ficou claro que fazer política é muito difícil. Articular os milhares de interesses é sem dúvida algo para poucos. O tamanho do estardalhaço em relação às intenções do Plano Nacional dos Direitos Humanos, proposto pelo governo e em debate nos últimos dias, provocou um incrível rebuliço no já conturbado e pouco coerente ambiente candango.

A igreja católica, por meio dos bispos da CNBB, urrou de ódio pela razão do projeto apresentar à discussão, pormenores acerca da descriminalização do aborto, em favor da integralidade e autonomia da mulher sobre seu próprio corpo, com a prerrogativa de debater a questão do modo devido: saúde pública.

Nelson Jobim, hábil como uma raposa, para fazer média com seus comparsas militares, também esbravejou em relação à tentativa de implementação do “Direito à Memória e à Verdade”, que faz parte do capítulo seis do projeto de 180 páginas. Tem o intento de referir e tornar públicas as violações dos Direitos Humanos cometidas pelos militares durante a Ditadura no Brasil (1964-1985), e ainda impedir a nomeação de praças, ruas, estádios de futebol, monumentos, com os nomes daqueles que romperam com as estruturas daquilo que é visto como fundamental à manutenção da integridade física e moral de outros sujeitos históricos.

A rede Globo encabeça a oposição naquilo que tange a avaliação da qualidade dos programas de mídia. O propósito do governo é criar um corpo de indivíduos que farão um cômputo daquilo que é veiculado nas emissoras de rádio, televisão e internet, os quais estarão atentos ao comprometimento das atrações com os princípios dos Direitos Humanos. Se encarado com seriedade, tal estratégia até pode ser uma boa. As empresas de mídia poderão receber advertências, multas, suspensão da programação e até cassação do direito à concessão.

Já os defensores da democracia liberal, que pregam o direito à propriedade privada, quase desfaleceram quando souberam das propostas que tratam dos trabalhadores sem terra. A intenção do governo é coibir práticas de violência contra movimentos sociais que lutam pelo acesso à terra, além da reintegração de posse das terras invadidas ser mais rígida, pois propõe a devolução da propriedade somente com a comprovação de que havia ali algum tipo de função social, sempre com obrigatória intervenção do Ministério Público na condução das ocorrências.

Alguns chiam por serem ortodoxos religiosos, outros em favor da memória coletiva dos militares, construída a partir da Guerra do Paraguai, outrem por interesses e poderes de mídia, capazes de influenciar em demasia os desdobramentos das políticas nacionais, com a prerrogativa de combaterem à censura. Há ainda aqueles que desejam a manutenção da desigualdade em distribuir as terras deste imenso país, que desde 1850, quando aprovada a Lei de Terras, assisti ao gozo das elites na administração dos espaços fundiários, que teve a finalidade de abolir as sesmarias, mas também de impedir aos trabalhadores alforriados adquirirem ao menos hum hectare para sobreviver.

Só gostaria que o contraditório presidente Lula não afrouxasse às pressões da oposição. Que mantenha as amarras do Plano Nacional dos Direitos Humanos como estão.

domingo, 4 de outubro de 2009

Luto...

A cantora argentina Mercedes Sosa, morreu hoje, 04.10.09, aos 74 (setenta e quatro) anos em Buenos Aires. Desde março deste ano, estava hospitalizada em um hospital da capital devido a um quadro de pneumonia e desidratação. Sofria de um problema hepático e piorou em função de complicações pulmonares.

Nascida em Tucumán, noroeste artegentino, Sosa, com uma carreira de mais de seis décadas, certamente foi uma das vozes mais representativas da música popular da América Latina. Circulou por diversos gêneros musicais e foi militante política contra as ditaduras ortodoxas conservadoras que ascenderam politicamente no continente latino americano durante a segunda metade do século XX. Dividiu o palco com Chico Buarque, Gilberto Gil e Milton Nascimento.


A esquerda está morrendo, infelizmente.




"Solo Le Pido A Dios"

Sólo le pido a Dios
Que el dolor no me sea indiferente,
Que la reseca muerte no me encuentre
Vacío y solo sin haber hecho lo suficiente.

Sólo le pido a Dios
Que lo injusto no me sea indiferente,
Que no me abofeteen la otra mejilla
Después que una garra me arañó esta suerte.

Sólo le pido a Dios
Que la guerra no me sea indiferente,
Es un monstruo grande y pisa fuerte
Toda la pobre inocencia de la gente.

Sólo le pido a Dios
Que el engaño no me sea indiferente
Si un traidor puede más que unos cuantos,
Que esos cuantos no lo olviden fácilmente.

Sólo le pido a Dios
Que el futuro no me sea indiferente,
Desahuciado está el que tiene que marchar
A vivir una cultura diferente.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Candeia, genuíno samba



Candeia foi um dos principais expoentes de uma geração de sambistas da Portela que surge na década de 1950. Filho de Seu Candeia, portelense antigo com livre trânsito por todos os cantos de Oswaldo Cruz, Candeia (o filho) conviveu com o samba desde criança. Ele lembrava, em seus depoimentos, da tristeza que sentia em seus aniversários: "enquanto nas festas das outras crianças havia bolo e sorvete, na minha tinha feijoada, caipirinha, partido alto, e a grande maioria dos convidados era gente adulta, amiga do meu pai. A frustração só não era maior porque quando batia 10 horas da noite e ia para cama, eu ficava acordado tentando entender tudo aquilo que era cantado pelos mestres portelenses".

Com essa bagagem musical, ingressou cedo na Portela e aos 14 anos participou de seu primeiro desfile, fantasiado de mecânico. Três anos depois, em 1953, compôs com Altair Prego o samba-enredo que concorreu com o samba de Manacéia, principal compositor de samba-enredo da Portela. Candeia ganhou e seu samba levou a Portela ao campeonato daquele ano com nota dez em todos os quesitos. Ainda compôs mais cinco sambas-enredos vitoriosos na Portela.

Além de sua vida na escola de samba, Candeia começou a trabalhar na polícia. Policial durão, era severo até com os próprios sambistas e amigos. Contavam que uma prostituta, após ter sido esbofeteada por ele, o rogou uma praga. No dia seguinte, Candeia foi baleado, por causa de uma discussão de madrugada no trânsito, e nunca mais andou. Essa fatalidade, ocorrida em dezembro de 1965, mudou definitivamente seu comportamento e o rumo de sua vida.

Impossibilitado de desenvolver atividades no Departamento de Polícia, em função de ter se tornado cadeirante, por causa do tiro, Candeia fora obrigado a retomar sua caminhada musical na Portela. Paradoxalmente, é provável que este acontecimento tenha sido fundamental ao desenvolvimento artístico do compositor.

Na década de 1970, o "Movimento de Resistência à Descaracterização das Escolas de Samba no Rio de Janeiro" encontrou em Antonio Candeia Filho seu principal líder. Juntamente com Paulinho da Viola, Carlos Monte, André Motta Lima e Cláudio Pinheiro, formulou um longo documento endereçado ao presidente da Portela, Carlos Teixeira Martins, em março de 1975, em que fazia diversas críticas às mudanças ocorridas na Portela e propondo uma série de mudanças, que iniciava da seguinte forma:

"Escola de samba é Povo em sua manifestação mais autêntica! Quando se submete às influências externas, a escola deixa de representar a cultura do nosso povo. (...) Durante a década de 60, o que se viu foi a passagem de pessoas de fora, sem identificação com o samba, para dentro das escolas. O sambista, a princípio, entendeu isso como uma vitória do samba, antes desprezado e até perseguido. O sambista não notou que essas pessoas não estavam na escola para prestigiar o samba. E aí as escolas de samba começaram a mudar. Dentro da escola, o sambista passou a fazer tudo para agradar essas pessoas que chegavam. Com o tempo, o sambista acabou fazendo a mesma coisa com o desfile. (...) Consideramos que este é o momento de fazer a única evolução possível, com o pensamento voltado para a própria escola. Ou seja, corrigindo o que vem atrapalhando os desfiles da Portela, que tem confundido simples modificações com evolução. É preciso ficar claro que nem tudo que vemos pela primeira vez é novo"

E o documento continuava, discorrendo ponto a ponto sobre as mudanças necessárias para o prosseguimento da escola de samba como manifestação genuinamente popular. Após ver ignoradas as críticas feitas ao funcionamento de sua Portela, Candeia passou a nutrir a idéia de fundar uma nova escola. Dizia ele ao jornalista seu amigo Juarez Barroso: “Uma escola em que tudo fosse feito pelo povo. As costureiras do lugar fazendo as fantasias. Não ia ter esse negócio de figurinista de fora não. As alegorias também, tudo de lá, escolhido lá. (...) Ia ser uma escola muito bonita. Sei lá, é uma idéia".

"Estou chegando...Venho com fé. Respeito mitos e tradições. Trago um canto negro. Busco a liberdade. Não admito moldes.As forças contrárias são muitas. Não faz mal... Meus pés estão no chão. Tenho certeza da vitória.Minhas portas estão abertas. Entre com cuidado. Aqui, todos podem colaborar. Ninguém pode imperar.Teorias, deixo de lado. Dou vazão à riqueza de um mundo ideal. O amor é meu princípio. A imaginação é minha bandeira.Não sou radical. Pretendo, apenas, salvaguardar o que resta de uma cultura. Gritarei bem alto explicando um sistema que cala vozes importantes e permite que outras totalmente alheias falem quando bem entendem. Sou franco atirador. Não almejo glórias. Faço questão de não virar academia. Tampouco palácio. Não atribua a meu nome o desgastado sufixo –ão. Nada de forjadas e mal feitas especulações literárias. Deixo os complexos temas à observação dos verdadeiros intelectuais. Eu sou povo. Basta de complicações. Extraio o belo das coisas simples que me seduzem.Quero sair pelas ruas dos subúrbios, com minhas baianas rendadas sambando sem parar. Com minha comissão de frente digna de respeito. Intimamente ligado às minhas origens.Artistas plásticos, figurinistas, coreógrafos, departamentos culturais, profissionais: não me incomodem, por favor.Sintetizo um mundo mágico. Estou chegando...”

Candeia foi reunindo os sambistas para a sua idéia. Com sua capacidade de liderança, conseguiu formar as bases iniciais para fundar a nova escola. No dia 8 de dezembro de 1975 foi inaugurado o Grêmio Recreativo de Arte Negra e Escola de Samba Quilombo. Suas cores: branco, dourado e lilás. Esse primeiro encontro dos sambistas se realizou num terreno baldio da Rua Pinhará, em Rocha Miranda, sede que logo foi substituída.

Já em janeiro de 1976 a escola se mudou para Coelho Neto, onde fez sua sede no Esporte Clube Vega, que estava em ruínas e fizera um acordo com a diretoria da Quilombo possibilitando a utilização do clube pelos “quilombolas”. Uma grande festa foi feita para inaugurar a nova sede. Lá estavam sambistas para se incorporar à Quilombo ou somente prestar seu apoio. A satisfação era geral pela concretização do espaço onde o sambista pudesse desenvolver livremente sua arte. Chegavam para se juntar a Candeia gente como Elton Medeiros, Martinho da Vila, Paulinho da Viola, Nei Lopes, Wilson Moreira, Guilherme de Brito, Monarco, Casquinha e outros integrantes da Velha Guarda da Portela, Mauro Duarte, Clementina de Jesus, dona Ivone Lara, Beth Carvalho, Clara Nunes, Nelson Sargento e outros.

Juarez Barroso, jornalista do Jornal do Brasil na época, bastante ligado à música popular e amigo de Candeia também aderiu à Quilombo. Na inauguração da nova escola, assim iniciava uma matéria de página inteira chamada Quilombo, nasce uma nova escola:

“As escolas de samba agigantaram-se, deformaram-se à medida que se transformaram (ou pretenderam se transformar) em shows para turistas. O tema é polêmico, tratado como sempre em tom passional. Deformação ou evolução? Seria possível o retorno à pureza, ao comunitarismo dos anos 30, quando essas escolas se consolidaram? O sambista Candeia, liderando outros sambistas descontentes com a situação, prefere responder de modo objetivo. E responde com a fundação de uma nova escola de samba, Quilombos, escola que terá sede em Rocha Miranda e irá para a Avenida mostrando como era e como deve ser o samba".

Como explicava Candeia, mais do que uma escola de samba, a Quilombo seria uma escola de sambistas, que pudesse servir de alerta às outras, assim como de referência. E nenhum de seus integrantes precisava abandonar as escolas a que pertenciam, a Quilombo não exigia exclusividade. Nei Lopes, já em 1980 no programa da TVE Tudo é música especial sobre escolas de samba – apresentado por José Ramos Tinhorão –, sintetizava: “A maioria das pessoas que estão aqui, como eu, o Martinho [da Vila], o Wilson [Moreira], a gente não deixou nossa escola de origem. A gente está pensando inclusive em levar a filosofia do Quilombo para nossas escolas de origem”.

Outro fato importante era o de que a Quilombo não era somente uma escola de samba. Candeia não cansava de explicar: “É Grêmio Recreativo de Arte Negra e Escola de Samba. Quilombo é jongo, é capoeira, é lundu, é maracatu”. A Quilombo se propunha a resgatar a cultura negra, a cultura dos morros e subúrbios do Rio de Janeiro, a cultura trazida, transformada e recriada pelos negros do Brasil, antepassados daqueles sambistas que ali se reuniam. Havia vários grupos de danças de origem negra (jongo, maracatu, maculelê, caxambu, afoxé, samba de lenço, samba de caboclo, lundu e capoeira). Chamaram para o grupo de jongo a vovó Teresa de 113 anos, mãe de Mestre Fuleiro, que morava no Morro da Serrinha, em Madureira. A sede da Quilombo era utilizada também para encontros culturais, como as conferências sobre a contribuição negra na formação cultural do Brasil, que chegava a reunir duzentas pessoas, além de atividades que buscavam integrar ainda mais a comunidade e a escola.

Em 1976, a escola ainda não tinha estrutura para desfilar. Mas um animado bloco sem fantasia pôde ser visto no carnaval pelas ruas do subúrbio de Coelho Neto e Acari. Já em 1977, mesmo com muitas dificuldades, a escola desfilou nas ruas do subúrbio e fechou o carnaval na Presidente Vargas no desfile das campeãs. Sua presença foi a grande novidade do carnaval e um grande sucesso segundo a imprensa. A Quilombo não se preocupava em filiar-se a entidades nem em participar de desfiles oficiais. Também não disputava campeonato. Aceitava o convite da Riotur para se apresentar na Avenida, mas não deixava de desfilar também nas ruas do subúrbio. E foi assim que em 1978 e 1979, com os enredos Ao povo em forma de arte e Noventa anos de Abolição, respectivamente, ambos os sambas compostos pela dupla Wilson Moreira e Nei Lopes, a Quilombo mais uma vez apresentou um desfile da maior qualidade e comp
rovava que as tais “inovações” no samba não eram necessárias para se fazer um belo carnaval. Depois do carnaval de 1978, o dinheiro que sobrou do desfile, sem ostentação, foi utilizado para comprar uniformes escolares para as crianças pobres do bairro onde ficava a sede da escola.

Em 16 de novembro de 1978, Candeia morria no Hospital Cardoso Fontes, por causa de crise renal-hepática. Sua morte foi um baque na luta intensa em defesa das raízes das escolas e do samba. Houve um grande vazio na comunidade “quilombola” pois Candeia era o principal líder e organizador. O contrato com o Esporte Clube Vega foi rompido e a escola ficou sem sede. Por iniciativa de várias pessoas a sede pode voltar a existir na Fazenda Botafogo, em Acari. A escola continuou existindo na década de 80, embora com menor destaque.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Descaso...

Até parece piada. De mal gosto, obviamente. Se não bastasse a ausência de infra-estrutura, saneamento básico, lazer e precariedade no que tange o transporte público, a população freqüentadora do CEU Navegantes, do distrito do Grajaú, extremo sul da capital paulistana, foi informada pela Vigilância Sanitária do município de São Paulo, que a alimentação oferecida aos alunos estava sendo preparada sem as condições mínimas de higiene.

Foi encontrada grande quantidade de coliformes fecais no leite para crianças de até 01 (hum) ano, no achocolatado, e até na água “filtrada”.

O governo do democrata Gilberto Kassab somente agora, seis meses após a confirmação das primeiras irregularidades, proibiu a empresa SISTAL de licitar ou prestar serviços ao município. A escola atende 2.000 (dois mil) alunos.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Seriam os piratas da Somália heróis?

A pirataria na costa somali até pouco tempo atrás era vista como mais um ato localizado de bandidagem inconseqüente num fim de mundo qualquer, mas cresceu e se desenvolveu a ponto de virar um problema internacional sério. Navios que atravessam o golfo de Áden, vindos da Europa, em direção aos mercados asiáticos (ou vice-versa) precisam passar por ali. Cerca de 20% do tráfego mundial de petróleo utiliza essa rota. Cargueiros com armas, tanques, comida e combustível passaram a sofrer ataques de lanchas com jovens armados até os dentes, que costumam manter tripulações como reféns por semanas e meses.

Desde o ano passado, a situação se agravou a ponto de as marinhas de países europeus e dos EUA passarem a patrulhar com maior freqüência a região. A pirataria parece ter diminuído um pouco, mas está na cara que é um paliativo apenas. Uma solução duradoura nos mares só vai emergir quando se encontrar uma solução duradoura em terra (a Somália é um caos sem governo e sem lei).
"Em 1991, o governo da Somália se desintegrou. Seus nove milhões de habitantes têm enfrentado a fome desde então – e as piores forças do mundo ocidental viram isso como uma grande oportunidade para roubar a oferta de comida do país e desovar nosso lixo nuclear em seus mares", diz o texto do articulista Johann Hari, do "The Independent". Sua teoria sustenta-se que a pirataria começou – e em larga medida se mantém - como um movimento de autodefesa das populações ribeirinhas somalis, contra esses dois fatores: o uso das águas costeiras como depósito de lixo nuclear e a pesca sem critério que retira do país uma de suas únicas fontes de riqueza.

“Tão logo o governo somali se foi, navios europeus misteriosos começaram a parecer na costa da Somália, jogando grandes barris no oceano. A população costeira começou a ficar doente. Primeiro, sofreram coceiras estranhas, náusea e deformação fetal. Então, após o tsunami de 2005, centenas de barris vazando apareceram nas praias. Pessoas começaram a sofrer doenças de radiação, e mais de 300 morreram”. O texto cita uma pesquisa de um site somali mostrando que 70% da população aprovam o uso de pirataria como uma forma de autodefesa.
“Nós queríamos que os famintos somalis esperassem passivamente em suas praias, nadando em nosso lixo tóxico e observando enquanto nós pegamos seu peixe para comer em restaurantes de Londres, Paris ou Roma?”, pergunta o jornal.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

É dos raçudos que elas gostam mais, por José Roberto Torero

Amável leitora, você prefere sair com um bonitão, que tem a cara do George Clooney, mas que não se importa muito com você, ou com um sujeito de feições comuns, mas que lhe faz uma canja especial quando você está gripada?

E você, leitor, gostaria mais de namorar com uma bela e fria modelo, daquelas que deitadas ficam mais paradas que manequins de loja, ou com uma mulher de feições normais que fizesse coisas de corar o pessoal de Gomorra?

Acho que a maioria dos leitores e leitoras escolheu, fácil, fácil, as segundas opções. E isso acontece ainda mais profundamente no futebol. Nestes tempos de profissionalismo, em que cada jogador fica apenas um semestre no clube, é raro ver um atleta que se identifique com o time, que lute os noventa minutos, que se emocione em vestir sua camisa, que aprenda seu hino, que olhe a tabela de classificação na segunda-feira para ver como está o campeonato.

Por isso estamos vivendo uma era de valorização dos raçudos.
Sim, hoje os raçudos são um artigo de luxo. Antes eram mais comuns que uísque paraguaio e eletrônico chinês. Hoje tornaram-se um produto raro. Coisa chique. Tanto que às vezes são até importados.

Antigamente você sabia que o jogador daria tudo de si, pois ele, para o bem e para o mal, pertencia ao clube e sua vida estava definitivamente ligada a ele. Hoje, não. Com este rodízio de pizza que é o mercado de jogadores, um atleta pode ir embora antes mesmo de saber o nome porteiro.

A torcida sente isso e busca se identificar com os jogadores que têm a cara do time, que parecem se esforçar mais do que o simplesmente profissional. Pergunte a um palmeirense o que ele acha de Pierre e ouvirá adjetivos exagerados num tom carinhoso. Pergunte a um corintiano qual a saída que ele mais lamentou, se a de Christian ou a do selecionável André Santos, e ele derramará lágrimas de saudade pelo volante. Pergunte a um santista se ele não acha que Madson está mais para um dos sete anões do que para jogador de futebol e comprará uma briga.
Nestes dias de frieza, aqueles que se empenham mais que o normal estão se transformando nos xodós da torcida. Atualmente é dos raçudos que elas gostam mais. E há poucos por clube. Um ou dois. No máximo três. Eles atraem o amor dos torcedores como gotas de Fanta Uva derrubadas na pia atraem formigas (o exemplo não é muito poético, mas aconteceu comigo ontem).

Qual destes dois ex-centroavantes os palmeirenses mais amam: Kléber ou Keirrison? A resposta é óbvia. Para os alviverdes, Kléber é um guerreiro capaz de derramar seu sangue pelo clube. Já Keirrison não passa de um prenúncio de cuspida.

Se jogassem hoje em dia, talvez Batista fosse mais amado que Falcão; Dudu mais adorado que Ademir da Guia, Rondinelli mais aclamado que Adílio.

Por isso, caro jogador, deixo-te um conselho. Caso sejas um daqueles atletas de estilo tão aristocrático que parecem estar jogando de smoking, fica na várzea. Só lá eles te saberão dar valor. Por outro lado, se não tens medo de deslizar na lama, de chocar tuas canelas com as do adversário, de correr como um desvairado e de chorar copiosamente nas derrotas, busca um grande time. Eles precisam de ti.

sábado, 11 de julho de 2009

Carta da Frente de Defesa do Povo Palestino

"Aos torcedores do Corinthians,

A Frente em Defesa do Povo Palestino, que reúne mais de 50 entidades da sociedade civil brasileira, apoia e vê com muitos bons olhos a ida do Corinthians à cidade palestina de Ramallah, na Cisjordânia, para participar de jogo contra o Flamengo. Levar o esporte para uma zona de conflito e território ocupado, onde seus habitantes não têm garantidos seus direitos fundamentais, é uma iniciativa louvável.

A Cisjordânia – ao lado da faixa de Gaza e de Jerusalém Oriental – permanece ocupada pelo Estado de Israel desde 1967, uma ação ilegal, como reconhece a própria ONU (Organização das Nações Unidas). Ali, as crianças não podem estudar ou jogar bola livremente, pois, além de correrem riscos, são submetidas a bloqueios e mesmo toques de recolher que buscam determinar o curso de suas vidas. Mesmo assim, admiram e conhecem os jogadores brasileiros, que podem trazer alguma alegria a vidas em que a normalidade do cotidiano tem sido roubada.

Acreditamos que, além disso, o jogo Corinthians x Flamengo pode voltar os holofotes para o problema palestino e pressionar a uma solução justa. Assim, pleiteamos a que não permitam que a direção do clube ceda a eventuais pressões para que o mesmo jogo ocorra também em Israel, o que seria como igualar opressor e oprimido. E impedir que o futebol – que já parou até guerra – cumpra sua função social de fato. A torcida do Corinthians tem um papel importante para que seu time, que historicamente tem sido o time da massa, que prima pela democracia e liberdade, se recuse a jogar em Israel, enquanto este mantiver a ocupação criminosa sobre os territórios palestinos, que tem feito milhares de vítimas".
*****
É óbvio que o inicial interesse à promoção da partida entre Corinthians e Flamengo na Palestina não partiu das respectivas diretorias futebolísticas envolvidas; aproveitaram a proposta do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, que tem o objetivo de instituir jogos de futebol com o propósito de busca paz - que inclusive já contou com Brasil x Haiti, em 2006, no Haiti - e já tramam ações de marketing que possam envolver as "estrelas" Ronaldo e Adriano. Mas, ao mesmo tempo, revela a relação e o imenso horizonte que o futebol exerce sobre a sociedade, muito mais abrangente que o medíocre discurso dos pseudointelectuais que relegam o esporte bretão a, simplesmente, ópio. O futebol, principalmente após o momento em que deixa de ser uma atividade ociosa e exclusiva de uma porção das elites urbanas e passa a prática popular, sobretudo a partir da década de sessenta, quando se dá o surgimento das torcidas organizadas a colorir as arquibancadas e instigar a paixão, o compromisso e a festa, selou seu comprometimento com os espaços construídos e utilizados coletivamente, além da esperança de ver no lazer um momento diferenciado de questionamento dessa realidade de construção de identidades sólidas.

sábado, 4 de julho de 2009

Após a conquista corintiana...

Por Frank Maia, chargista "A Notícia", de Joinville.