sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Seriam os piratas da Somália heróis?

A pirataria na costa somali até pouco tempo atrás era vista como mais um ato localizado de bandidagem inconseqüente num fim de mundo qualquer, mas cresceu e se desenvolveu a ponto de virar um problema internacional sério. Navios que atravessam o golfo de Áden, vindos da Europa, em direção aos mercados asiáticos (ou vice-versa) precisam passar por ali. Cerca de 20% do tráfego mundial de petróleo utiliza essa rota. Cargueiros com armas, tanques, comida e combustível passaram a sofrer ataques de lanchas com jovens armados até os dentes, que costumam manter tripulações como reféns por semanas e meses.

Desde o ano passado, a situação se agravou a ponto de as marinhas de países europeus e dos EUA passarem a patrulhar com maior freqüência a região. A pirataria parece ter diminuído um pouco, mas está na cara que é um paliativo apenas. Uma solução duradoura nos mares só vai emergir quando se encontrar uma solução duradoura em terra (a Somália é um caos sem governo e sem lei).
"Em 1991, o governo da Somália se desintegrou. Seus nove milhões de habitantes têm enfrentado a fome desde então – e as piores forças do mundo ocidental viram isso como uma grande oportunidade para roubar a oferta de comida do país e desovar nosso lixo nuclear em seus mares", diz o texto do articulista Johann Hari, do "The Independent". Sua teoria sustenta-se que a pirataria começou – e em larga medida se mantém - como um movimento de autodefesa das populações ribeirinhas somalis, contra esses dois fatores: o uso das águas costeiras como depósito de lixo nuclear e a pesca sem critério que retira do país uma de suas únicas fontes de riqueza.

“Tão logo o governo somali se foi, navios europeus misteriosos começaram a parecer na costa da Somália, jogando grandes barris no oceano. A população costeira começou a ficar doente. Primeiro, sofreram coceiras estranhas, náusea e deformação fetal. Então, após o tsunami de 2005, centenas de barris vazando apareceram nas praias. Pessoas começaram a sofrer doenças de radiação, e mais de 300 morreram”. O texto cita uma pesquisa de um site somali mostrando que 70% da população aprovam o uso de pirataria como uma forma de autodefesa.
“Nós queríamos que os famintos somalis esperassem passivamente em suas praias, nadando em nosso lixo tóxico e observando enquanto nós pegamos seu peixe para comer em restaurantes de Londres, Paris ou Roma?”, pergunta o jornal.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

É dos raçudos que elas gostam mais, por José Roberto Torero

Amável leitora, você prefere sair com um bonitão, que tem a cara do George Clooney, mas que não se importa muito com você, ou com um sujeito de feições comuns, mas que lhe faz uma canja especial quando você está gripada?

E você, leitor, gostaria mais de namorar com uma bela e fria modelo, daquelas que deitadas ficam mais paradas que manequins de loja, ou com uma mulher de feições normais que fizesse coisas de corar o pessoal de Gomorra?

Acho que a maioria dos leitores e leitoras escolheu, fácil, fácil, as segundas opções. E isso acontece ainda mais profundamente no futebol. Nestes tempos de profissionalismo, em que cada jogador fica apenas um semestre no clube, é raro ver um atleta que se identifique com o time, que lute os noventa minutos, que se emocione em vestir sua camisa, que aprenda seu hino, que olhe a tabela de classificação na segunda-feira para ver como está o campeonato.

Por isso estamos vivendo uma era de valorização dos raçudos.
Sim, hoje os raçudos são um artigo de luxo. Antes eram mais comuns que uísque paraguaio e eletrônico chinês. Hoje tornaram-se um produto raro. Coisa chique. Tanto que às vezes são até importados.

Antigamente você sabia que o jogador daria tudo de si, pois ele, para o bem e para o mal, pertencia ao clube e sua vida estava definitivamente ligada a ele. Hoje, não. Com este rodízio de pizza que é o mercado de jogadores, um atleta pode ir embora antes mesmo de saber o nome porteiro.

A torcida sente isso e busca se identificar com os jogadores que têm a cara do time, que parecem se esforçar mais do que o simplesmente profissional. Pergunte a um palmeirense o que ele acha de Pierre e ouvirá adjetivos exagerados num tom carinhoso. Pergunte a um corintiano qual a saída que ele mais lamentou, se a de Christian ou a do selecionável André Santos, e ele derramará lágrimas de saudade pelo volante. Pergunte a um santista se ele não acha que Madson está mais para um dos sete anões do que para jogador de futebol e comprará uma briga.
Nestes dias de frieza, aqueles que se empenham mais que o normal estão se transformando nos xodós da torcida. Atualmente é dos raçudos que elas gostam mais. E há poucos por clube. Um ou dois. No máximo três. Eles atraem o amor dos torcedores como gotas de Fanta Uva derrubadas na pia atraem formigas (o exemplo não é muito poético, mas aconteceu comigo ontem).

Qual destes dois ex-centroavantes os palmeirenses mais amam: Kléber ou Keirrison? A resposta é óbvia. Para os alviverdes, Kléber é um guerreiro capaz de derramar seu sangue pelo clube. Já Keirrison não passa de um prenúncio de cuspida.

Se jogassem hoje em dia, talvez Batista fosse mais amado que Falcão; Dudu mais adorado que Ademir da Guia, Rondinelli mais aclamado que Adílio.

Por isso, caro jogador, deixo-te um conselho. Caso sejas um daqueles atletas de estilo tão aristocrático que parecem estar jogando de smoking, fica na várzea. Só lá eles te saberão dar valor. Por outro lado, se não tens medo de deslizar na lama, de chocar tuas canelas com as do adversário, de correr como um desvairado e de chorar copiosamente nas derrotas, busca um grande time. Eles precisam de ti.