domingo, 4 de outubro de 2009

Luto...

A cantora argentina Mercedes Sosa, morreu hoje, 04.10.09, aos 74 (setenta e quatro) anos em Buenos Aires. Desde março deste ano, estava hospitalizada em um hospital da capital devido a um quadro de pneumonia e desidratação. Sofria de um problema hepático e piorou em função de complicações pulmonares.

Nascida em Tucumán, noroeste artegentino, Sosa, com uma carreira de mais de seis décadas, certamente foi uma das vozes mais representativas da música popular da América Latina. Circulou por diversos gêneros musicais e foi militante política contra as ditaduras ortodoxas conservadoras que ascenderam politicamente no continente latino americano durante a segunda metade do século XX. Dividiu o palco com Chico Buarque, Gilberto Gil e Milton Nascimento.


A esquerda está morrendo, infelizmente.




"Solo Le Pido A Dios"

Sólo le pido a Dios
Que el dolor no me sea indiferente,
Que la reseca muerte no me encuentre
Vacío y solo sin haber hecho lo suficiente.

Sólo le pido a Dios
Que lo injusto no me sea indiferente,
Que no me abofeteen la otra mejilla
Después que una garra me arañó esta suerte.

Sólo le pido a Dios
Que la guerra no me sea indiferente,
Es un monstruo grande y pisa fuerte
Toda la pobre inocencia de la gente.

Sólo le pido a Dios
Que el engaño no me sea indiferente
Si un traidor puede más que unos cuantos,
Que esos cuantos no lo olviden fácilmente.

Sólo le pido a Dios
Que el futuro no me sea indiferente,
Desahuciado está el que tiene que marchar
A vivir una cultura diferente.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Candeia, genuíno samba



Candeia foi um dos principais expoentes de uma geração de sambistas da Portela que surge na década de 1950. Filho de Seu Candeia, portelense antigo com livre trânsito por todos os cantos de Oswaldo Cruz, Candeia (o filho) conviveu com o samba desde criança. Ele lembrava, em seus depoimentos, da tristeza que sentia em seus aniversários: "enquanto nas festas das outras crianças havia bolo e sorvete, na minha tinha feijoada, caipirinha, partido alto, e a grande maioria dos convidados era gente adulta, amiga do meu pai. A frustração só não era maior porque quando batia 10 horas da noite e ia para cama, eu ficava acordado tentando entender tudo aquilo que era cantado pelos mestres portelenses".

Com essa bagagem musical, ingressou cedo na Portela e aos 14 anos participou de seu primeiro desfile, fantasiado de mecânico. Três anos depois, em 1953, compôs com Altair Prego o samba-enredo que concorreu com o samba de Manacéia, principal compositor de samba-enredo da Portela. Candeia ganhou e seu samba levou a Portela ao campeonato daquele ano com nota dez em todos os quesitos. Ainda compôs mais cinco sambas-enredos vitoriosos na Portela.

Além de sua vida na escola de samba, Candeia começou a trabalhar na polícia. Policial durão, era severo até com os próprios sambistas e amigos. Contavam que uma prostituta, após ter sido esbofeteada por ele, o rogou uma praga. No dia seguinte, Candeia foi baleado, por causa de uma discussão de madrugada no trânsito, e nunca mais andou. Essa fatalidade, ocorrida em dezembro de 1965, mudou definitivamente seu comportamento e o rumo de sua vida.

Impossibilitado de desenvolver atividades no Departamento de Polícia, em função de ter se tornado cadeirante, por causa do tiro, Candeia fora obrigado a retomar sua caminhada musical na Portela. Paradoxalmente, é provável que este acontecimento tenha sido fundamental ao desenvolvimento artístico do compositor.

Na década de 1970, o "Movimento de Resistência à Descaracterização das Escolas de Samba no Rio de Janeiro" encontrou em Antonio Candeia Filho seu principal líder. Juntamente com Paulinho da Viola, Carlos Monte, André Motta Lima e Cláudio Pinheiro, formulou um longo documento endereçado ao presidente da Portela, Carlos Teixeira Martins, em março de 1975, em que fazia diversas críticas às mudanças ocorridas na Portela e propondo uma série de mudanças, que iniciava da seguinte forma:

"Escola de samba é Povo em sua manifestação mais autêntica! Quando se submete às influências externas, a escola deixa de representar a cultura do nosso povo. (...) Durante a década de 60, o que se viu foi a passagem de pessoas de fora, sem identificação com o samba, para dentro das escolas. O sambista, a princípio, entendeu isso como uma vitória do samba, antes desprezado e até perseguido. O sambista não notou que essas pessoas não estavam na escola para prestigiar o samba. E aí as escolas de samba começaram a mudar. Dentro da escola, o sambista passou a fazer tudo para agradar essas pessoas que chegavam. Com o tempo, o sambista acabou fazendo a mesma coisa com o desfile. (...) Consideramos que este é o momento de fazer a única evolução possível, com o pensamento voltado para a própria escola. Ou seja, corrigindo o que vem atrapalhando os desfiles da Portela, que tem confundido simples modificações com evolução. É preciso ficar claro que nem tudo que vemos pela primeira vez é novo"

E o documento continuava, discorrendo ponto a ponto sobre as mudanças necessárias para o prosseguimento da escola de samba como manifestação genuinamente popular. Após ver ignoradas as críticas feitas ao funcionamento de sua Portela, Candeia passou a nutrir a idéia de fundar uma nova escola. Dizia ele ao jornalista seu amigo Juarez Barroso: “Uma escola em que tudo fosse feito pelo povo. As costureiras do lugar fazendo as fantasias. Não ia ter esse negócio de figurinista de fora não. As alegorias também, tudo de lá, escolhido lá. (...) Ia ser uma escola muito bonita. Sei lá, é uma idéia".

"Estou chegando...Venho com fé. Respeito mitos e tradições. Trago um canto negro. Busco a liberdade. Não admito moldes.As forças contrárias são muitas. Não faz mal... Meus pés estão no chão. Tenho certeza da vitória.Minhas portas estão abertas. Entre com cuidado. Aqui, todos podem colaborar. Ninguém pode imperar.Teorias, deixo de lado. Dou vazão à riqueza de um mundo ideal. O amor é meu princípio. A imaginação é minha bandeira.Não sou radical. Pretendo, apenas, salvaguardar o que resta de uma cultura. Gritarei bem alto explicando um sistema que cala vozes importantes e permite que outras totalmente alheias falem quando bem entendem. Sou franco atirador. Não almejo glórias. Faço questão de não virar academia. Tampouco palácio. Não atribua a meu nome o desgastado sufixo –ão. Nada de forjadas e mal feitas especulações literárias. Deixo os complexos temas à observação dos verdadeiros intelectuais. Eu sou povo. Basta de complicações. Extraio o belo das coisas simples que me seduzem.Quero sair pelas ruas dos subúrbios, com minhas baianas rendadas sambando sem parar. Com minha comissão de frente digna de respeito. Intimamente ligado às minhas origens.Artistas plásticos, figurinistas, coreógrafos, departamentos culturais, profissionais: não me incomodem, por favor.Sintetizo um mundo mágico. Estou chegando...”

Candeia foi reunindo os sambistas para a sua idéia. Com sua capacidade de liderança, conseguiu formar as bases iniciais para fundar a nova escola. No dia 8 de dezembro de 1975 foi inaugurado o Grêmio Recreativo de Arte Negra e Escola de Samba Quilombo. Suas cores: branco, dourado e lilás. Esse primeiro encontro dos sambistas se realizou num terreno baldio da Rua Pinhará, em Rocha Miranda, sede que logo foi substituída.

Já em janeiro de 1976 a escola se mudou para Coelho Neto, onde fez sua sede no Esporte Clube Vega, que estava em ruínas e fizera um acordo com a diretoria da Quilombo possibilitando a utilização do clube pelos “quilombolas”. Uma grande festa foi feita para inaugurar a nova sede. Lá estavam sambistas para se incorporar à Quilombo ou somente prestar seu apoio. A satisfação era geral pela concretização do espaço onde o sambista pudesse desenvolver livremente sua arte. Chegavam para se juntar a Candeia gente como Elton Medeiros, Martinho da Vila, Paulinho da Viola, Nei Lopes, Wilson Moreira, Guilherme de Brito, Monarco, Casquinha e outros integrantes da Velha Guarda da Portela, Mauro Duarte, Clementina de Jesus, dona Ivone Lara, Beth Carvalho, Clara Nunes, Nelson Sargento e outros.

Juarez Barroso, jornalista do Jornal do Brasil na época, bastante ligado à música popular e amigo de Candeia também aderiu à Quilombo. Na inauguração da nova escola, assim iniciava uma matéria de página inteira chamada Quilombo, nasce uma nova escola:

“As escolas de samba agigantaram-se, deformaram-se à medida que se transformaram (ou pretenderam se transformar) em shows para turistas. O tema é polêmico, tratado como sempre em tom passional. Deformação ou evolução? Seria possível o retorno à pureza, ao comunitarismo dos anos 30, quando essas escolas se consolidaram? O sambista Candeia, liderando outros sambistas descontentes com a situação, prefere responder de modo objetivo. E responde com a fundação de uma nova escola de samba, Quilombos, escola que terá sede em Rocha Miranda e irá para a Avenida mostrando como era e como deve ser o samba".

Como explicava Candeia, mais do que uma escola de samba, a Quilombo seria uma escola de sambistas, que pudesse servir de alerta às outras, assim como de referência. E nenhum de seus integrantes precisava abandonar as escolas a que pertenciam, a Quilombo não exigia exclusividade. Nei Lopes, já em 1980 no programa da TVE Tudo é música especial sobre escolas de samba – apresentado por José Ramos Tinhorão –, sintetizava: “A maioria das pessoas que estão aqui, como eu, o Martinho [da Vila], o Wilson [Moreira], a gente não deixou nossa escola de origem. A gente está pensando inclusive em levar a filosofia do Quilombo para nossas escolas de origem”.

Outro fato importante era o de que a Quilombo não era somente uma escola de samba. Candeia não cansava de explicar: “É Grêmio Recreativo de Arte Negra e Escola de Samba. Quilombo é jongo, é capoeira, é lundu, é maracatu”. A Quilombo se propunha a resgatar a cultura negra, a cultura dos morros e subúrbios do Rio de Janeiro, a cultura trazida, transformada e recriada pelos negros do Brasil, antepassados daqueles sambistas que ali se reuniam. Havia vários grupos de danças de origem negra (jongo, maracatu, maculelê, caxambu, afoxé, samba de lenço, samba de caboclo, lundu e capoeira). Chamaram para o grupo de jongo a vovó Teresa de 113 anos, mãe de Mestre Fuleiro, que morava no Morro da Serrinha, em Madureira. A sede da Quilombo era utilizada também para encontros culturais, como as conferências sobre a contribuição negra na formação cultural do Brasil, que chegava a reunir duzentas pessoas, além de atividades que buscavam integrar ainda mais a comunidade e a escola.

Em 1976, a escola ainda não tinha estrutura para desfilar. Mas um animado bloco sem fantasia pôde ser visto no carnaval pelas ruas do subúrbio de Coelho Neto e Acari. Já em 1977, mesmo com muitas dificuldades, a escola desfilou nas ruas do subúrbio e fechou o carnaval na Presidente Vargas no desfile das campeãs. Sua presença foi a grande novidade do carnaval e um grande sucesso segundo a imprensa. A Quilombo não se preocupava em filiar-se a entidades nem em participar de desfiles oficiais. Também não disputava campeonato. Aceitava o convite da Riotur para se apresentar na Avenida, mas não deixava de desfilar também nas ruas do subúrbio. E foi assim que em 1978 e 1979, com os enredos Ao povo em forma de arte e Noventa anos de Abolição, respectivamente, ambos os sambas compostos pela dupla Wilson Moreira e Nei Lopes, a Quilombo mais uma vez apresentou um desfile da maior qualidade e comp
rovava que as tais “inovações” no samba não eram necessárias para se fazer um belo carnaval. Depois do carnaval de 1978, o dinheiro que sobrou do desfile, sem ostentação, foi utilizado para comprar uniformes escolares para as crianças pobres do bairro onde ficava a sede da escola.

Em 16 de novembro de 1978, Candeia morria no Hospital Cardoso Fontes, por causa de crise renal-hepática. Sua morte foi um baque na luta intensa em defesa das raízes das escolas e do samba. Houve um grande vazio na comunidade “quilombola” pois Candeia era o principal líder e organizador. O contrato com o Esporte Clube Vega foi rompido e a escola ficou sem sede. Por iniciativa de várias pessoas a sede pode voltar a existir na Fazenda Botafogo, em Acari. A escola continuou existindo na década de 80, embora com menor destaque.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Descaso...

Até parece piada. De mal gosto, obviamente. Se não bastasse a ausência de infra-estrutura, saneamento básico, lazer e precariedade no que tange o transporte público, a população freqüentadora do CEU Navegantes, do distrito do Grajaú, extremo sul da capital paulistana, foi informada pela Vigilância Sanitária do município de São Paulo, que a alimentação oferecida aos alunos estava sendo preparada sem as condições mínimas de higiene.

Foi encontrada grande quantidade de coliformes fecais no leite para crianças de até 01 (hum) ano, no achocolatado, e até na água “filtrada”.

O governo do democrata Gilberto Kassab somente agora, seis meses após a confirmação das primeiras irregularidades, proibiu a empresa SISTAL de licitar ou prestar serviços ao município. A escola atende 2.000 (dois mil) alunos.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Seriam os piratas da Somália heróis?

A pirataria na costa somali até pouco tempo atrás era vista como mais um ato localizado de bandidagem inconseqüente num fim de mundo qualquer, mas cresceu e se desenvolveu a ponto de virar um problema internacional sério. Navios que atravessam o golfo de Áden, vindos da Europa, em direção aos mercados asiáticos (ou vice-versa) precisam passar por ali. Cerca de 20% do tráfego mundial de petróleo utiliza essa rota. Cargueiros com armas, tanques, comida e combustível passaram a sofrer ataques de lanchas com jovens armados até os dentes, que costumam manter tripulações como reféns por semanas e meses.

Desde o ano passado, a situação se agravou a ponto de as marinhas de países europeus e dos EUA passarem a patrulhar com maior freqüência a região. A pirataria parece ter diminuído um pouco, mas está na cara que é um paliativo apenas. Uma solução duradoura nos mares só vai emergir quando se encontrar uma solução duradoura em terra (a Somália é um caos sem governo e sem lei).
"Em 1991, o governo da Somália se desintegrou. Seus nove milhões de habitantes têm enfrentado a fome desde então – e as piores forças do mundo ocidental viram isso como uma grande oportunidade para roubar a oferta de comida do país e desovar nosso lixo nuclear em seus mares", diz o texto do articulista Johann Hari, do "The Independent". Sua teoria sustenta-se que a pirataria começou – e em larga medida se mantém - como um movimento de autodefesa das populações ribeirinhas somalis, contra esses dois fatores: o uso das águas costeiras como depósito de lixo nuclear e a pesca sem critério que retira do país uma de suas únicas fontes de riqueza.

“Tão logo o governo somali se foi, navios europeus misteriosos começaram a parecer na costa da Somália, jogando grandes barris no oceano. A população costeira começou a ficar doente. Primeiro, sofreram coceiras estranhas, náusea e deformação fetal. Então, após o tsunami de 2005, centenas de barris vazando apareceram nas praias. Pessoas começaram a sofrer doenças de radiação, e mais de 300 morreram”. O texto cita uma pesquisa de um site somali mostrando que 70% da população aprovam o uso de pirataria como uma forma de autodefesa.
“Nós queríamos que os famintos somalis esperassem passivamente em suas praias, nadando em nosso lixo tóxico e observando enquanto nós pegamos seu peixe para comer em restaurantes de Londres, Paris ou Roma?”, pergunta o jornal.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

É dos raçudos que elas gostam mais, por José Roberto Torero

Amável leitora, você prefere sair com um bonitão, que tem a cara do George Clooney, mas que não se importa muito com você, ou com um sujeito de feições comuns, mas que lhe faz uma canja especial quando você está gripada?

E você, leitor, gostaria mais de namorar com uma bela e fria modelo, daquelas que deitadas ficam mais paradas que manequins de loja, ou com uma mulher de feições normais que fizesse coisas de corar o pessoal de Gomorra?

Acho que a maioria dos leitores e leitoras escolheu, fácil, fácil, as segundas opções. E isso acontece ainda mais profundamente no futebol. Nestes tempos de profissionalismo, em que cada jogador fica apenas um semestre no clube, é raro ver um atleta que se identifique com o time, que lute os noventa minutos, que se emocione em vestir sua camisa, que aprenda seu hino, que olhe a tabela de classificação na segunda-feira para ver como está o campeonato.

Por isso estamos vivendo uma era de valorização dos raçudos.
Sim, hoje os raçudos são um artigo de luxo. Antes eram mais comuns que uísque paraguaio e eletrônico chinês. Hoje tornaram-se um produto raro. Coisa chique. Tanto que às vezes são até importados.

Antigamente você sabia que o jogador daria tudo de si, pois ele, para o bem e para o mal, pertencia ao clube e sua vida estava definitivamente ligada a ele. Hoje, não. Com este rodízio de pizza que é o mercado de jogadores, um atleta pode ir embora antes mesmo de saber o nome porteiro.

A torcida sente isso e busca se identificar com os jogadores que têm a cara do time, que parecem se esforçar mais do que o simplesmente profissional. Pergunte a um palmeirense o que ele acha de Pierre e ouvirá adjetivos exagerados num tom carinhoso. Pergunte a um corintiano qual a saída que ele mais lamentou, se a de Christian ou a do selecionável André Santos, e ele derramará lágrimas de saudade pelo volante. Pergunte a um santista se ele não acha que Madson está mais para um dos sete anões do que para jogador de futebol e comprará uma briga.
Nestes dias de frieza, aqueles que se empenham mais que o normal estão se transformando nos xodós da torcida. Atualmente é dos raçudos que elas gostam mais. E há poucos por clube. Um ou dois. No máximo três. Eles atraem o amor dos torcedores como gotas de Fanta Uva derrubadas na pia atraem formigas (o exemplo não é muito poético, mas aconteceu comigo ontem).

Qual destes dois ex-centroavantes os palmeirenses mais amam: Kléber ou Keirrison? A resposta é óbvia. Para os alviverdes, Kléber é um guerreiro capaz de derramar seu sangue pelo clube. Já Keirrison não passa de um prenúncio de cuspida.

Se jogassem hoje em dia, talvez Batista fosse mais amado que Falcão; Dudu mais adorado que Ademir da Guia, Rondinelli mais aclamado que Adílio.

Por isso, caro jogador, deixo-te um conselho. Caso sejas um daqueles atletas de estilo tão aristocrático que parecem estar jogando de smoking, fica na várzea. Só lá eles te saberão dar valor. Por outro lado, se não tens medo de deslizar na lama, de chocar tuas canelas com as do adversário, de correr como um desvairado e de chorar copiosamente nas derrotas, busca um grande time. Eles precisam de ti.

sábado, 11 de julho de 2009

Carta da Frente de Defesa do Povo Palestino

"Aos torcedores do Corinthians,

A Frente em Defesa do Povo Palestino, que reúne mais de 50 entidades da sociedade civil brasileira, apoia e vê com muitos bons olhos a ida do Corinthians à cidade palestina de Ramallah, na Cisjordânia, para participar de jogo contra o Flamengo. Levar o esporte para uma zona de conflito e território ocupado, onde seus habitantes não têm garantidos seus direitos fundamentais, é uma iniciativa louvável.

A Cisjordânia – ao lado da faixa de Gaza e de Jerusalém Oriental – permanece ocupada pelo Estado de Israel desde 1967, uma ação ilegal, como reconhece a própria ONU (Organização das Nações Unidas). Ali, as crianças não podem estudar ou jogar bola livremente, pois, além de correrem riscos, são submetidas a bloqueios e mesmo toques de recolher que buscam determinar o curso de suas vidas. Mesmo assim, admiram e conhecem os jogadores brasileiros, que podem trazer alguma alegria a vidas em que a normalidade do cotidiano tem sido roubada.

Acreditamos que, além disso, o jogo Corinthians x Flamengo pode voltar os holofotes para o problema palestino e pressionar a uma solução justa. Assim, pleiteamos a que não permitam que a direção do clube ceda a eventuais pressões para que o mesmo jogo ocorra também em Israel, o que seria como igualar opressor e oprimido. E impedir que o futebol – que já parou até guerra – cumpra sua função social de fato. A torcida do Corinthians tem um papel importante para que seu time, que historicamente tem sido o time da massa, que prima pela democracia e liberdade, se recuse a jogar em Israel, enquanto este mantiver a ocupação criminosa sobre os territórios palestinos, que tem feito milhares de vítimas".
*****
É óbvio que o inicial interesse à promoção da partida entre Corinthians e Flamengo na Palestina não partiu das respectivas diretorias futebolísticas envolvidas; aproveitaram a proposta do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, que tem o objetivo de instituir jogos de futebol com o propósito de busca paz - que inclusive já contou com Brasil x Haiti, em 2006, no Haiti - e já tramam ações de marketing que possam envolver as "estrelas" Ronaldo e Adriano. Mas, ao mesmo tempo, revela a relação e o imenso horizonte que o futebol exerce sobre a sociedade, muito mais abrangente que o medíocre discurso dos pseudointelectuais que relegam o esporte bretão a, simplesmente, ópio. O futebol, principalmente após o momento em que deixa de ser uma atividade ociosa e exclusiva de uma porção das elites urbanas e passa a prática popular, sobretudo a partir da década de sessenta, quando se dá o surgimento das torcidas organizadas a colorir as arquibancadas e instigar a paixão, o compromisso e a festa, selou seu comprometimento com os espaços construídos e utilizados coletivamente, além da esperança de ver no lazer um momento diferenciado de questionamento dessa realidade de construção de identidades sólidas.

sábado, 4 de julho de 2009

Após a conquista corintiana...

Por Frank Maia, chargista "A Notícia", de Joinville.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Progresso?, por Ricardo C. Rocha

Sempre fui um torcedor de acompanhar jogos no estádio, mas também sempre tive prazer em assistir aos jogos pela televisão, pela experiência de analisar as partidas por todos os ângulos possíveis, os detalhes de cada jogada, a magia dos replays, coisas que só são possíveis devido à infinidade de câmeras que as emissoras utilizam nas coberturas esportivas.

Com a era digital, essa sensação está maximizada, pela qualidade nas imagens e dos aparelhos de LCD e Plasma.

Tudo seria uma maravilha, não fosse um pequeno detalhe: a variedade de tecnologias para transmissão de jogos vem fazendo com que a experiência de assistir jogos pela TV esteja cada vez menos emocionante.

Parece um paradoxo, mas não é: basta observar que em cada lance de perigo (ou de gol efetivamente) aparece algum vizinho vibrando antecipadamente.

Seria um visionário? Um vidente? Ou um simples telespectador com sinal de TV aberta ou analógica?

O sinal que vem da TV a cabo (ou via satélite, como a Sky), demora cerca de 2 a 3 segundos a mais para transmitir a imagem.

Pode parecer insignificante, mas para o futebol, é uma eternidade. Na quarta feira passada, estava em um bar com uns amigos, e havia uma única TV captando sinal aberto da Globo (enquanto as demais transmitiam o jogo via cabo).

Qual não foi a minha surpresa, quando alguns torcedores já gritavam “Gooool” enquanto o Marcelo Oliveira ainda nem havia cruzado a bola para o Jorge Henrique!

E na disputa pelo “mais ao vivo dos ao vivos”, o rádio leva imensa vantagem, por não necessitar da decodificação de sinal que os aparelhos receptores de TV a cabo necessitam.

Sorte daqueles que viveram na era do rádio, onde o gol acontecia ao mesmo tempo para todos, e cada um tinha sua própria imagem mental de um gol, que ficava mais ou menos bonito de acordo com quem o estava contando.

Provavelmente, muito mais bonito do que qualquer câmera da atualidade possa captar...

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Quanta hipocrisia...

Mais uma vez os caucasianos “civilizados” querem interferir no continente africano. Agora, têm intenção de proibir as Vuvuzelas – cornetas – bastantes comuns nos estádio de futebol da África do Sul, com a prerrogativa de que o objeto está atrapalhando a concentração daqueles que cultivam e enriquecem em demasia, através do esporte bretão.

Jornalistas holandeses e americanos, em cobertura da Copa das Confederações, torneio preparatório para a Copa do Mundo, chegaram a formalizar um protesto à FIFA, órgão máximo do futebol, cuja finalidade seria banir as Vuvuzelas dos estádios, com a alegação de que o instrumento não permite boa comunicação entre os profissionais da comunicação e organização do evento. Alguns canais de televisão, inclusive, têm manipulado a opinião pública, com argumentos de que as pessoas podem bater umas nas outras com o utensílio sonoro, que é de plástico. Ao mesmo tempo, alguns jogadores também aderem à controvérsia, como Xabi Alonso, volante espanhol, e Robinho, atacante do Brasil, que julgam a proposta da torcida africana impraticável, pois perturba e causa confusão quanto à comunicação em campo.

Diz o torcedor Mokaba Thekeli, em Pretória: “A Vuvuzela é a alma do torcedor de futebol da África do Sul; não podem tirar ela dos estádios".

Os jogadores, imprensa, comitê organizador etc., devem se adaptar às Vuvuzelas e as demais manifestações culturais existentes em África. Lá, as expressões são externadas principalmente por meio da música, da dança, dos sons, com significativa vivacidade e alegria, diferentemente da sobriedade e frieza dos costumes burgueses europeus. Chega de interferência, de manipulação. Respeito às práticas culturais!

Se a preocupação dos publicistas, desportistas e arranjadores da ordem estivessem relacionadas à possibilidade da violência entre os torcedores, porque ninguém discute a obrigatoriedade da venda de bebidas alcoólicas nas portas dos estádios, por determinação contratual da Budweiser, patrocinadora oficial da FIFA, já que está comprovado que homens bêbados quando estão em bando, em geral, procuram por briga?

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Bolsa Família, o maior programa de distribuição de renda do mundo!

Macarrão, dona Rosa só veio conhecer aos 20 (vinte) anos, no casamento de uma prima, em Barra de Santa Rosa, sertão paraibano. Seus filhos, Isabel e Pedro, entretanto, desde crianças, comem macarrão. Comem também arroz, feijão, cuscuz e até carne. Tudo com os “míseros” R$ 102 mensais, frutos do benefício oferecido pelo maior programa social do mundo, o Bolsa Família, principal vitrine da situação, liderada pelo ex-sindicalista metalúrgico e atual presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva.

Nobel da Paz, o bengalês Muhammad Yunus, juntamente a outros críticos nacionais do programa, afirmam que o projeto possui caráter assistencialista e eleitoreiro, pois não oferece uma perspectiva real de emprego e independência gradativa do benefício; não atinge a maioria necessitada em detrimento da assistência àqueles que teoricamente precisam menos, em função de uma fiscalização ainda ineficiente; não garantem a permanência das crianças e adolescentes nas escolas, condição que garante a manutenção do projeto, também em virtude de uma censura ruim; em tese desestimularia pobres a buscar trabalho formal, visto que, afinal, já recebem o benefício sem trabalhar etc.

Ao mesmo tempo, porém, apontam os favoráveis, que a assistência reduz a pobreza, a desigualdade e a fome. Segundo o Ibase (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas), a desnutrição infantil caiu 50% de 1996 a 2006. O índice é ainda maior no Nordeste, já que lá foram investidos 53% dos recursos. Além disso, promove a emancipação feminina, que corresponde a 94% dos beneficiários; o controle desses recursos faz com que as mulheres gerenciem o lar. A economia local também é favorecida, pois distribuir renda ao invés de comida proporciona o direito de decidir o que comprar. Seu Carlindo, dono de um mercadinho em Cumaru, Pernambuco, diz: “aqui, o que mais sai é comida, mas às vezes alguém pega uma latinha de aguardente”. O programa também estabelece condições que promovem diretamente outros modos de qualidade de vida, como acompanhamento nutricional às gestantes e crianças até sete anos; obrigatoriedade ao pré e pós natal; imposição de acompanhamento quanto à vacinação e garantia de que estas tenham freqüência escolar mínima de 85%.

Cícero Péricles de Carvalho, economista, em reportagem à renomada revista inglesa The Economist, que publicou o estudo “Economia Popular – Uma Via de Modernização para Alagoas” fez uma conta simples: “Cerca de 1,4 milhão de alagoanos recebem, por ano, R$ 380 milhões do Bolsa Família. O que representa para a economia de Alagoas? Muito. Basta comparar com o corte de cana. Neste ano, haverá uma safra de 30 milhões de toneladas de cana-de-açúcar. Cada tonelada de cana cortada paga R$ 3 ao trabalhador, um total de R$ 90 milhões. Toda a massa salarial gerada no corte da cana representa menos de uma quarta parte do Bolsa Família”.

Contudo, essa pobreza combatida pelo projeto é relativa, pois está comprovado que o valor do benefício melhora a vida dos brasileiros nordestinos e nortistas residentes em geral, mas se mostra insuficiente àqueles que vivem nas regiões metropolitanas da região sul do Brasil. De acordo com um levantamento de preços realizado no mês de setembro/08 pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), o valor da cesta básica nas regiões metropolitanas das regiões Sul e Sudeste chega a ser 39,5% maior que no Norte e Nordeste. Assim, se em Recife custa R$ 167,76, em São Paulo o preço é R$ 234,68.

O programa, no princípio, chegou a considerar a possibilidade da criação de linhas de pobreza diferentes para o campo e para as áreas metropolitanas. A hipótese, segundo Rosani Cunha, responsável pela gestão do Bolsa Família do Ministério do Desenvolvimento Social, entretanto, foi descartada, porque acarretaria em um impacto redistributivo de renda menor, já que o montante de dinheiro destinado às regiões centrais e mais ricas seria muito mais elevado que aquele direcionado às pobres e rurais. Assim, além de acentuar a diferença social entre as regiões, linhas de pobreza distintas poderiam provocar um aumento da migração pelo país.

Por isso, algumas capitais brasileiras buscam soluções para esse problema. Em São Paulo e Belo Horizonte, os municípios criaram programas que complementam os recursos do Bolsa Família. Na cidade paulistana, há hoje 80 mil famílias com renda de até R$ 175 por pessoa ao mês que recebem entre R$ 140 e R$ 200 do Renda Mínima da maior metrópole brasileira.

Em Osasco, município da Grande São Paulo extremamente pobre, desigual e violento, a prefeitura oficializou a criação de oficinas de costura aos beneficiários do programa Bolsa Família. Vejam que interessante: Maria Aparecida da Silva Vera, 32, recebia R$ 450 por mês para estudar e aprender a costurar em máquinas profissionais, com o propósito de confeccionar uniformes de alunos das escolas do município. O curso de dois anos acabou e a prefeitura imediatamente a direcionou ao Portal do Trabalhador – um sistema online onde o profissional deixa seu currículo à vista das 1600 empresas cadastradas, que custa à Prefeitura R$ 35 milhões ao ano. Foi assim que se tornou modelista com carteira assinada a R$ 800. Devolveu o cartão do Bolsa Família, reformou a casa, comprou armários, fogão e computador de tela plana ao filho adolescente.

Logo, fica claro que o projeto Bolsa Família precisa melhorar, pois não pode ser o único mecanismo voltado à redução da desigualdade. O desafio deve proporcionar um combate além da fome; deve garantir acesso aos demais direitos previstos na Constituição, por meio da democratização do conhecimento, da informação, do capital cultural, da conscientização e qualificação profissional da população etc. Mas, de qualquer forma, representa a tentativa de “reparação histórica” que, sem dúvida, já é significativo.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Abram a porteira, o gado-torcedor pede passagem na final do Paulistinha!, por José Roberto Malia



Primeiro jogo na Vila Belmiro; segundo, no Pacaembu. Não se pode colocar em dúvida: o mando de campo é inquestionável, independentemente de a casa ser própria, alugada ou emprestada. Mas também não se pode negar: os cariocas estão morrendo de rir das finais do Paulistinha.

As duas partidas entre Santos e Corinthians devem atrair 60 mil torcedores, com muita gente saindo pelo ladrão na Vila Belmiro e Pacaembu. No Carioquinha, Botafogo e Flamengo podem levar até 160 mil pagantes ao Maracanã. Ou quase o triplo do Paulistinha.

Enquanto isso, no jardim encantado da fada madrinha repousa um Morumbi às moscas, com capacidade para 70 mil pessoas. E que cobra menos aluguel do que a prefeitura para liberar o Pacaembu.

Felizmente, e como sempre, há o outro lado da moeda. Pelos ótimos serviços não-prestados em Vila Belmiro, o ingresso mais barato custa R$ 80 - R$ 53 a mais do que o preço para assistir Los Angeles Lakers x Utah Jazz, pelos playoffs da pouco badalada NBA, de acordo com a 'Folha'.

Já a entrada mais cara na vila de beco sem saída foi fixada pelo samaritano presidente Marcelo Teixeira em parcos R$ 200 - R$ 13 a mais do que um bilhete para assistir Manchester United x Arsenal, pelas semifinais da Liga dos Campeões da Europa, no medíocre Old Trafford, também conhecido como 'teatro dos sonhos'. Um estádio tão superado que ainda permite ao torcedor chegar em cima da hora e encontrar vago o seu lugar.

Peguem o chicote e abram a porteira: o gado-torcedor continua firme e forte.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

A alma do negócio, por Roberto Vieira


O capitalismo brasileiro é um espanto.

No acumulado de 2008, o Bradesco teve lucro líquido contábil de R$ 7,620 bilhões.
Repito: O Bradesco lucrou mais de 7 bilhões de reais em 2008.

Bradesco que, em 2007, registrou o maior lucro entre os bancos de capital aberto do país nos últimos 20 anos.

Bradesco que ontem fechou as portas do volei feminino de Osasco.

No liberalismo, cada um faz o que bem entende.

O Bradesco quer acabar com sua equipe de volei?

Não tem problema.

Cada um bota seu dinheiro onde bem quer.

O Bradesco vai manter as categorias de base?

Ótimo.

Mas um fato não pode deixar de ser mencionado.

Durante todo o dia de ontem, a mídia insistia no fim do volei de Osasco.

Na importância da equipe de Osasco.

Nos riscos que corre o volei brasileiro.

Mas ninguém falava do Bradesco.

Como a propaganda é a alma do negócio.

Caso o nome Bradesco fosse mencionado em alto e bom som, o Bradesco teria perdido muito mais que os 12 milhões economizados quando despediu-se do volei.

E talvez pensasse melhor antes de bloquear seu patrocínio ao esporte nacional.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Verdadeira vestimenta

Já imaginava ter visto tudo em relação à hipocrisia hierárquica e social promovidos pelas elites brasileiras. Contudo, infelizmente, o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB) provou que a criatividade das oligarquias metropolitanas são insaciáveis.

Ao custo de R$ 40 milhões, o governo irá construir muros ao redor de 11 (onze) favelas localizadas na zona sul, área nobre da cidade. Segundo o Estado, o objetivo é conter a expansão das moradias irregulares em áreas consideradas fundamentais para a preservação ambiental.

Disse Ícaro Moreno, presidente da EMOP (empresa pública estadual responsável pelas obras nas favelas): “...apesar da estabilidade da ocupação de algumas favelas, é preciso evitar que os moradores ergam construções em áreas de risco. A sociedade da zona sul e das comunidades apoia. O desmatamento é ruim para todos. Não vejo polêmica. Há uma aversão a muros, mas muros existem em casas, condomínios e linhas ferroviárias. A minha casa é murada e meu vizinho não se sente segregado”.

O tamanho da imundície proposta corresponde, financeiramente, a construção de uma creche, um hospital e dois centros de integração e cidadania na Rocinha, ambos com restaurante e usina de reciclagem, por intermédio do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), que custarão R$ 32 milhões.

Existe, evidentemente, a questão da segurança pública em jogo. As elites morrem de medo dos pobres pretos marginalizados porque sabem, ou fingem que desconhecem, a imensa desigualdade e preconceito gerados e geridos por eles próprios. E, não satisfeitos com os muros, cercas elétricas e carros blindados, furam o sinal, “o velho sinal vermelho habitual, e ao notar um homem mijando na esquina da rua sobre um saco brilhante de lixo do Leblon”, querem segregá-los, como animais infecciosos, fétidos.

O muro separa, cria guetos e promove, fatalmente, o aumento da criminalidade organizada.

É o paradoxo perfeito.

A mesma “Cidade Maravilhosa”, orgulhosa, quando convém, do samba, do carnaval.

sábado, 28 de março de 2009

Em Brasília...

Segundo levantamento de Gabriel Castro, repórter da CBN São Paulo, o preço de custo do ingresso do amistoso entre Brasil e Portugal, em novembro de 2008, na capital candanga foi de R$ 13,00. Isso mesmo, R$ 13,00.

Em São Paulo, no Pacaembu, e no Rio, no Maracanã, os valores correspondem a R$ 0,50 e R$ 1,60, respectivamente.

Enquanto isso, apesar da aparente fraudulência, os governistas de Brasília tremem ao ouvir falar em CPI, pois temem quanto a candidatura da cidade a sede da Copa de 2014.

Quantos serão os desvios e os benefícios individuais, particulares ou não, para a formulação e concretização do mais importante torneio de futebol do mundo, em função da experiência devastadora do Pan-RJ em 2007 e da crise capitalista, a qual culminará, inevitavelmente, na utilização de dinheiro público para a construção de estádios, complexos esportivos para treinamento, alojamentos etc?

Como se não fossem necessárias outras reformulações sociais.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Insanidade eclesiástica

Em entrevista concedida à Carta Capital, Rivaldo Mendes de Albuquerque, professor de Medicina da Universidade Estadual de Pernambuco, excomungado semana passada pelo arcebispo de Olinda dom José Cardoso Sobrinho, pela razão da realização do aborto em uma garota que fora estuprada pelo padrasto e, por conseqüência, corria risco de vida, disse:

“A excomunhão não fechou meus olhos para as violências que vejo praticadas, diariamente, contra as mulheres. Sou médico e constato que o aborto é uma questão de saúde pública. A excomunhão em nada ajuda a resolver este problema. Apenas reforça uma postura da Igreja, que não está associada aos que mais precisam. Do ponto de vista religioso, a penalidade é forte, mas não me atinge porque tenho a certeza de que estou ajudando mulheres a saírem de situações extremas. Viver uma situação de violência é como viver no inferno”.

O arcebispo excomungou a mãe, os médicos e a equipe envolvida no procedimento.

É a igreja católica! Esta que, por intermédio de sua maior representação hierárquica, o Vaticano, também declarou que "a maior vitória das mulheres neste último século certamente foi a popularização da máquina de lavar roupas". Tal instituição atingiu o mais alto nível de insanidade, principalmente pelo fato de eximir sanções ao padrasto estuprador!

quarta-feira, 4 de março de 2009

Prosperamos unidos, separados caímos, por Fernando Canzian

A crise já força homens e governos a revelar do que são feitos. Em tempos de prosperidade, boa vontade e fraternidade. Na escassez, sobrevivência em primeiro lugar.

Em várias economias representativas da globalização, uma série de ações protecionistas e protestos contra imigrantes emergiram na semana passada. É mais um sintoma da maior crise de nossa geração. Um fato que tende acentuar problemas futuros em vez de amenizá-los.

Para 2009, o FMI estima uma retração de quase 3% no volume de comércio internacional por conta da crise. Se ficar só nisso, vai sair barato, dada a nova onda protecionista.

O slogan "Buy America" (compre produtos americanos) está novamente em voga nos EUA, e o próprio governo de Barack Obama introduziu no novo pacote de estímulo econômico de US$ 819 bilhões a exigência de que o aço usado nas futuras obras públicas no país seja comprado de siderúrgicas norte-americanas.

O consumo nos EUA caiu a um nível recorde nos últimos seis meses. Se o "Buy America" pegar em meio a essa retração, a China e demais países asiáticos, com o grosso de suas exportações voltadas para os EUA, vão sofrer barbaramente.

Já há notícias de milhares de ex-operários chineses fazendo o caminho de volta da cidade para o campo por conta de demissões em massa em empresas exportadoras. Não vai demorar para o governo chinês, detentor de bilhões de dólares em títulos do Tesouro norte-americano, dar o seu passo.

Na Europa e sua periferia, já aparecem os primeiros sinais evidentes de rachadura na União Europeia e, mais grave, de sérios problemas para alguns países no pacto em torno da moeda única, o euro.

No Reino Unido, centenas de trabalhadores foram às ruas protestar contra a decisão da refinaria francesa Total de contratar empregados italianos e portugueses para um projeto de US$ 280 milhões. "British jobs for british workers", (na Inglaterra, trabalho para trabalhadores britânicos) diziam os cartazes dos que protestavam.

Na Espanha, onde o desemprego bateu em 14%, o maior da União Europeia, o governo está oferecendo US$ 14.000 (R$ 32.200) aos imigrantes que aceitarem voltar a seus países. No principal aeroporto de Madri, Barajas, voltaram os repatriamentos de centenas de latinos (inclusive brasileiros) assim que pisam no país.

Na França, mais de 1 milhão de trabalhadores foram as ruas pedir mais ajuda do Estado a empresas francesas. Na Grécia, fazendeiros fizeram um mega bloqueio de estradas durante dez dias exigindo a aprovação de um pacote de ajuda que desrespeita regras da União Europeia.
É só o começo.

Nos subterrâneos dessa crise, uma bomba de imensas proporções vai sendo armada no coração da União Europeia. Países menos avançados há dez anos como Portugal, Espanha, Irlanda, Grécia e vários outros no conjunto de 16 nações que têm hoje o euro como moeda só cresceram rapidamente nos últimos anos por conta de um forte endividamento. E a conta dessas dívidas chegou.

Agora, enquanto países como Alemanha, França e os escandinavos erguem pacotes bilionários de estímulo a suas economias e protegem seu sistema financeiro com dinheiro estatal, os "ex-pobres" têm não só de honrar dívidas como seus Estados e empresas são obrigados a captar dinheiro no mercado a custos punitivos na comparação com os demais.

Antes do euro, esses países em dificuldades tinham a opção de desvalorizar suas moedas e, ao tornar seus produtos mais baratos, dar forte impulso ao setor exportador. Com o euro, essa opção não existe mais, assim como não há a possibilidade de aumentarem indefinidamente déficits e endividamentos, dadas as regras de convergência da União Europeia.

Daqui em diante, todas essas assimetrias só tendem a piorar.

Na crise, prevalece o de sempre: salve-se quem puder, pelos quatro cantos do mundo.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Oásis

Sobre a candidatura a Presidência da República em 2010:

"O PMDB está se oferecendo para ver quem paga mais e quem ganha mais. O PMDB rendeu-se à política de quem paga mais. Eles ficam esperando para ver quem paga mais, seja a Dilma Roussef (Casa Civil – PT), seja José Serra (PSDB-SP)", disse Pedro Simon (PMDB-RS).

A declaração do senador ratifica, infelizmente, o discurso do também senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) sobre os caminhos políticos adotados pela legenda. Jarbas afirmou em entrevista concedida à revista VEJA que o PMDB é um partido sem bandeiras, sem propostas, sem um norte. "É uma confederação de líderes regionais, cada um com seu interesse, sendo que mais de 90% deles praticam o clientelismo, de olho principalmente nos cargos".

O PMDB aprendeu a cobrar por seus “serviços”. No governo Fernando Henrique o partido já havia conseguido alguns cargos por intermédio desses procedimentos contestáveis. E, no governo Lula, chegou ao ápice, garantindo a governabilidade da situação, em função de possuir a maior bancada na Câmara e no Senado. Detém seis ministérios: Comunicações, Saúde, Minas e Energia, entregues ao Senado e Integração Nacional, Defesa e Agricultura, dados à Câmara. Desse modo, a legenda comanda R$ 251 bilhões do orçamento.

Faço força para acreditar que alguns ainda miram o prestígio político e o bem comum da população. Mas, segundo tais declarações, a maioria dos peemedebistas, lamentavelmente, se especializou na prática da manipulação de licitações, nepotismo e corrupção.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Um dia para esquecer

Por intermédio da morte de meu avô, fui “obrigado” a presenciar algo que me provocou repúdio.

O admirador de sambas, especialmente quando estes envolviam o nome de Ivone Lara e Cartola, João Blanco, veio a falecer às 23h deste último sábado de carnaval. Desse modo, os procedimentos macabros do catolicismo ocorreram hoje, durante todo o dia. Vou tentar expô-los de modo isento, apesar do enorme castigo que representa perder alguém querido.

Primeiramente, o falecimento ocorreu em Aparecida do Norte, município do interior do Estado de São Paulo. A cidade fica a 200 quilômetros da capital e abriga a Basílica Nacional – um marco para os católicos, como meu avô. Assim, quando lá estivemos, eu, mãe e tio, para buscarmos o corpo, na madrugada de domingo, nos deparamos com o absurdo dos valores que envolvem o procedimento. Transporte para a capital, caixão, flores, formol. R$ 2.000.

Se não bastassem, era necessário realizar exumações para haver espaço no jazigo e, enfim, poder enterrar o corpo. Logo, mais grana para o comércio funesto. R$ 500 para exumação e mais R$ 800 para o enterro.

Assim, começou a velação do corpo, fragmento do processo que provoca mais rejeição, desdém, juntamente ao enterro. Será que estes rituais são necessários? Um ambiente fechado, pouco ventilado e mal cheiroso; as cruzes e a ostentação que a posição social do morto permite; o padre, sisudo, que fica de plantão proferindo o mesmo discurso o dia todo; dezenas de parentes chorando ao redor do caixão e assistindo ao trabalho dos coveiros etc. Extremamente pesado, denso, capaz somente de fortalecer o sofrimento dos mais próximos, até exaurirem suas lágrimas.

E a caminho do túmulo pude, realmente, perceber o caráter social, hierárquico, de um cemitério. É impressionante a busca da singularidade através das tais “artes tumulares”. Lado a lado, túmulos “monumentais”, cheios de pompa, com lajotas brilhantes escritas a ouro, com direito a fotos e todo tipo de representação social, e túmulos simples, como o de meu avô, apenas revestidos a cimento. Como se não fossem todos para o mesmo lugar, para as entranhas dos animais que habitam a terra!

No fim, perdi a exuberante companhia de meu parceiro no samba, na vida e acumulei asco, náusea, aversão à Igreja Católica e todo seu entorno.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Mais bocas e menos comida

Segundo a PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), pela razão da combinação de fatores relacionados às mudanças climáticas, à degradação gradativa do solo e a escassez de água potável no mundo, a produção de alimentos no mundo poderá cair até 25% em 40 anos, enquanto, paradoxalmente, a população do planeta tem potencial para acumular mais 2 (dois) bilhões de pessoas.

O relatório aponta que a produção mundial de cereais permanece estagnada e a de pescados tem diminuído progressivamente. Se não bastasse, os aumentos nos preços dos alimentos, verificados em 2008, foram suficientes para lançar mais de 110 (cento e dez) milhões de humanos na linha da miséria. E, para piorar, o estudo alerta para a possível elevação dos preços de 30% a 50% nas próximas décadas, quando a população mundial poderá beirar a casa dos 9 (nove) milhões de habitantes.

Contudo, uma notícia animadora, apesar da constatação da irresponsabilidade e negligência: metade da comida produzida no mundo é desperdiçada, em razão da ineficiência de políticas públicas capazes de conscientizar a população, a qual, igualmente, também tem culpa.

“Precisamos lidar não apenas com a forma como o mundo produz alimentos, mas também com o modo como eles são distribuídos, vendidos e consumidos. Há evidência no relatório de que o mundo poderia alimentar todo o crescimento populacional projetado apenas se tornando mais eficiente, o que também garantiria a sobrevivência de animais, pássaros e peixes”, disse um porta voz.

O mundo capitalista instituiu o pensamento particular, a idéia do lucro, mas de distribuição ineficaz. Não há meio de romper com tais articulações, estruturas econômicas bastantes sedimentadas que privilegiam grandes nomes, oligarquias, empresas, corporações e favorecem, dão combustível às politicagens e tráficos de influências tão conhecidos, discutidos e, no entanto, invencíveis. Dentro das bases estabelecidas, talvez a redução dos commodityes facilitassem a possibilidade de melhor distribuição desses alimentos. Ou até, quem sabe, a criação de estoques, os quais poderiam ser úteis em momentos agudos.

Quanto às estratégias para se evitar uma grave crise alimentar, desconheço-as. Só vou na onda de especialistas de cunho humano, social. Porém, tenho certeza de que tal crise vai chegar e triunfar, inevitavelmente, sobre os mais pobres!

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Barbárie Brasil, por Juca Kfouri

O cara que matou meu pai, em 1985, depois de uma tentativa de assalto, tinha vários roubos nas costas, tinha sido condenado, preso, mas estava em regime semi-aberto. Ficou preso até 1999 depois de assassinar um Procurador de Justiça e voltou ao regime semi-aberto. Três anos atrás foi preso outra vez, sabe-se lá até quando.
No Brasil é assim.
As coisas são recorrentes, se repetem, por mais absurdas que sejam.
E não adianta culpar a PM, a Justiça, o Congresso Nacional, o presidente, o governador ou o prefeito, nem os torcedores uniformizados.
Resta constatar que isto é Brasil, o país que viu ontem, além de mais uma morte de torcedor e mais de 40 feridos, 59 ônibus depedrados em Belo Horizonte depois do clássico no Mineirão, além de tiros na saída do Maracanã.
Porque vivemos num país em que ainda há trotes violentos até em universidades ditas de respeito.
Esperar o que de nós mesmos?
Nós somos inúteis!

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Modo de produção capitalista!

Li no blog de José Saramago, que na China, as penas dos travesseiros que envolvem as cabeças pensantes (?) dos cidadãos, mundanos, modernos, são extraídas de modo vil, cru, sem qualquer estrutura que preze pela possibilidade de diminuir a dor do pobre animal.

Ao ler, lembrei de algumas discussões sobre o conceito “vegetariano”. Alguns alegam a escolha pelo modelo alternativo em função da “barbárie” em que aves, patos, galinhas e bovinos são submetidos para satisfação e gozo humano. Quanto a isso não há discussão. Soube que os patos, postos em sexteto em gaiolas de 4 metros quadrados, antes de sacrificados, cortam-lhes os bicos para que os mesmos não se matem antes da hora.

Contudo, pergunto: Qual a diferença de se matar animais e plantas? Vale desmatar enormes áreas de florestas ou matas menores, mas não menos importantes, para a plantação de soja, por exemplo? Pior! Com a alegação de que a demanda por alimentos no mundo e no Brasil cresceram, necessitando assim a dita ampliação. Será mesmo? Mino Carta afirma que apenas 5% da população brasileira possui salário superior a R$ 800.

O problema é o modo de produção capitalista pós-moderno! Ele é responsável pela matança geral, pela proliferação dos frigoríficos e modos similares de acúmulo de renda. Os frangos que comemos, para espanto de alguns, são pintinhos. Quando o frango ou galinha atingem a idade de 01 (um) ano, a pele torna-se rosada! Mas qual o problema? Compramos congelados, limpos, no supermercado.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Postura tricolor

Considero válida a decisão do São Paulo de destinar aos visitantes de seu estádio, apenas 10% da carga de ingressos.

Ainda mais pela razão do amparo legal e das conhecidas promoções e políticas mercadológicas promovidas pela competente gestão administrativa tricolor.

Contudo, rompeu-se com uma tradição.

É evidente também que ausência da fiel comprometerá a renda da partida.

O valor dos ingressos também é salgado: R$ 90 (inteira) / R$ 45 (meia). Um absurdo para o paulistano, em média bastante pobre.

Ao Corinthians, resta aplicar a lei quando o mando de campo for seu, e colocar a torcida são-paulina em um cantinho qualquer, lá no Pacaembu.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

A caminho da moralidade







Finalmente, Edmar Moreira (DEM-MG), renunciou ao cargo de segundo vice presidente da Câmara dos Deputados e, consequentemente, ao título de corregedor, após intensa pressão pública acerca de explicações sobre o castelo de 36 suítes no interior de Minas Gerais, avaliado em R$ 25 milhões, não declarado à justiça eleitoral.

O deputado ainda é investigado, pelo Supremo Tribunal Federal, por apropriação ilegal de contribuições do INSS feitas por seus empregados.

Importante salientar que a função de corregedor, na Câmara, é responsável por encaminhar à Justiça pedidos de investigação contra parlamentares que supostamente ferissem a Constituição e exige, obviamente, um currículo isento de improbidades.

Agora pasme! Moreira, quando assumiu o cargo há uma semana, disse à imprensa: “A função de corregedor é muito complicada, pela razão de sermos responsáveis [sic] por investigar companheiros, amigos de longa data”.

Em comunicado oficial, Moreira disse: “Minha vida sempre foi pautada pela transparência e em total consonância com os princípios democráticos. O que era para ser um momento de alegria vem se tornando uma sangria desatada, pautada em mentiras, inverdades, jogo de retóricas, que resultam em ataques sem qualquer respaldo empírico e de forma indiscriminada, extrapolando os limites da natureza humana”.

Você acredita nele?

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Davos, por José Saramago

"Tenho lido que a reunião de Davos este ano não foi precisamente um êxito. Faltou muita gente, a sombra da crise gelou sem piedade os sorrisos, os debates foram faltos de real interesse, talvez porque ninguém soubesse bem o que dizer, temendo que os factos concretos do dia seguinte viessem a pôr em ridículo as análises e as propostas com muito esforço engendradas para corresponderem, nem que fosse por uma mera casualidade, às mais que modestas expectativas criadas. Sobretudo fala-se muito de uma inquietante falta de ideias, indo até ao ponto de admitir-se que o “espírito de Davos” tenha morrido. Pessoalmente nunca me apercebi de que pairasse por ali um “espírito”, ou algo mais ou menos merecedor dessa designação. Quanto à alegada falta de ideias, surpreende-me que só agora se lhe tenha feito referência, uma vez que ideias, o que, com todo o respeito, chamamos ideias, nunca dali saiu uma só para amostra. Davos foi durante trinta anos a academia neo-con por excelência e, tanto quanto posso recordar, nem uma só voz se ouviu no paradisíaco hotel suíço para apontar os caminhos perigosos que o sistema financeiro e a economia haviam tomado. Quando já se estavam semeando ventos ninguém quis ver que vinham aí as tempestades. E agora dizem-nos que não há ideias. Vamos ver se elas surgem, agora que o pensamento único não tem mais mentiras para oferecer-nos".

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Ato Lilly Ledbetter

Hoje, Barack Obama assinou uma lei que iguala os salários entre homens e mulheres nos Estados Unidos, mesmo contando com a oposição dos republicanos conservadores. O tema “igualdade”, por sinal, já havia marcado o discurso de posse do democrata, quando fizera referência aos princípios fundadores do país e defendera o ideal de felicidade heterogêneo.

Lilly Ledbetter (ao lado de Obama), que dá nome ao projeto de lei, é supervisora da fábrica de pneus Goodyear, no Alabama. Ela processou a empresa por discriminação sexual, após descobrir que, por 20 (vinte) anos, ganhou US$ 6.500 a menos que o supervisor de menor salário da companhia. Pior! Na escala hierárquica, Lilly era chefe deste último.

"Ela fez seu trabalho por quase duas décadas antes de descobrir que ganhava menos que colegas homens. Ela teve perdas de U$ 200 mil em salário e ainda mais em pensão e benefícios sociais, perdas com as quais ela arca até hoje”, disse Obama, acompanhado por Ledbetter. Após, completou: “faço isso pelas minhas filhas, para que elas tenham oportunidades que sua mãe e avós não imaginavam ter”.

É evidente que esta história não se resume a Ledbetter. São milhões de mulheres no mundo que recebem menos que homens, ainda mais se estas forem negras, asiáticas, latinas etc.

Valeu Obama!

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Estupro no futebol?


Robinho, ex- jogador de futebol do Santos e do poderoso Real Madrid, titular da seleção brasileira, hoje atuando no modesto Manchester City, é acusado de participar de um caso de abuso sexual contra uma jovem em boate de Leeds, norte da Inglaterra, há pouco mais de uma semana.

Alguns jornais mascaram, mas a acusação é de estupro.


No entanto, com seus bolsos cheios de libras, estas adquiridas de modo duvidoso por seu empregador, Robinho pagou fiança e foi liberado.


Nunca achei Robinho um grande jogador. Hábil, é verdade, porém bastante limitado. Finaliza mal com ambas as pernas, não sabe cabecear e é bastante individualista.

Contudo, lamentável o que tem feito com sua carreira. Primeiro, quando jogador do Santos, forçou sua saída ao Real Madrid, causando indigestão à torcida. Posteriormente, integrado em um sistema de rodízio no mais poderoso e glorioso clube de futebol do planeta, por razões mal explicadas, novamente forçou sua saída, a qual culminou na transação mais cara do futebol do Reino Unido, R$ 100,73 milhões. Esta última causou-lhe duras críticas do mundo futebolístico, pela razão de transferência de clube por dinheiro, apenas.


Se realmente culpado de crime tão desprezível, machista, torço para que fique preso por muito tempo.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Reflexão paulistana, por Tom Zé

São, São Paulo, quanta dor
São, São Paulo, meu amor

São oito milhões de habitantes
De todo canto e nação
Que se agridem cortesmente
Correndo a todo vapor
E amando com todo ódio
Se odeiam com todo amor
São oito milhões de habitantes
Aglomerada solidão
Por mil chaminés e carros
Gaseados a prestação

Porém, com todo defeito
Te carrego no meu peito

São, São Paulo, quanta dor
São, São Paulo, meu amor

Salvai-nos por caridade
Pecadoras invadiram
Todo o centro da cidade
Armadas de ruge e batom
Dando vivas ao bom humor
Num atentado contra o pudor
A família protegida
O palavrão reprimido
Um pregador que condena
Um festival por quinzena

Porém, com todo defeito
Te carrego no meu peito

São, São Paulo, quanta dor
São, São Paulo, meu amor

Santo Antonio foi demitido
E os ministros de Cupido
Armados da eletrônica
Casam pela tevê
Crescem flores de concreto
Céu aberto ninguém vê
Em Brasília é veraneio
No Rio é banho de mar
O país todo de férias
E aqui é só trabalhar

Porém, com todo defeito
Te carrego no meu peito

São, São Paulo, quanta dor
São, São Paulo, meu amor

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Cesare: veni, vidi, vici



O agora renovado escritor italiano Cesare Battisti se disse “aliviado” a respeito da aprovação de concessão de asilo político ao qual foi submetido, por intermédio do lúcido ministro da Justiça Tarso Genro.

Nosso irresponsável presidente, à imprensa internacional, igualmente afrontou a Constituição e o Estado de direito italiano, ao dizer: "Precisamos aprender a respeitar as decisões soberanas de cada país. Pode até não concordar, mas tem que respeitar".

Battisi foi condenado à prisão perpétua na década de 70, após assassinatos e comportamento cúmplice em desfechos semelhantes, quando ligado ao grupo clandestino “Proletários Armados pelo Comunismo” (PAC). Em uma dessas articulações, foi explodido um trem em Bolonha, resultando na morte de centenas de civis.

Alguns especialistas em Direito estão perplexos com a leitura equivocada de Genro sobre o caso. O Ministro desvaloriza a decisão do Estado Italiano por entender que está amparado pelas “leis de exceção”. Contudo, confunde-as com as emergenciais, as quais acarretam nas tão discutíveis reformas administrativas. Se tal entendimento fosse correto, a legislação brasileira, tão modificada em virtude da escalada do crime organizado, teria sido alterada com base nas “leis de exceção”? Não compete a Genro, um mero Ministro da Justiça, cassar, desconsiderar ou caracterizar como nula a decisão da Justiça italiana.

Só consigo enxergar a existência de uma esquerda saudosista e atrasada, pela razão de um dos advogados de Battisti ser Luiz Eduardo Greenhalgh – político vinculado ao PT, ex-vice-prefeito de São Paulo na administração de Luiza Erundina e envolvido com Daniel Dantas, suspeito de tráfico de influências – além da atual gestão italiana ser coordenada pelo conservador, fascista, Silvio Berlusconi.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Em Gaza...




Após 14 dias de ataques incessantes sobre o território palestino, Israel e o grupo radical islâmico Hamas recusaram a resolução proposta pelo Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) para um cessar fogo na região. A proposta foi articulada pelo Reino Unido, com a colaboração da França e outros países árabes.

Enquanto os judeus argumentam que terceiros jamais determinarão seus direitos de defesa de suas cidadanias e que o exército continuará sua operação com o propósito de defesa da população israelense, os radicais do Hamas alegam que a resolução do Conselho não considera o interesse palestino. Contudo, tais líderes não consideram o elevado número de mortes de civis. Até o momento, 760 palestinos perderam o direito de viver.

Não acho que os judeus, agora no ataque, são nazistas, como muitos andam escrevendo por aí, até porque, tal afirmação, equivocadamente, minimizaria a conduta nazista e maximizaria o comportamento israelense. Fica claro também que tal conflito religioso ocorre em detrimento da criação do Estado judeu em 1948, pela ONU, depois do fim do holocausto, como uma retaliação à população que fora estraçalhada. Não obstante, a partilha do espaço até então palestino, evidentemente, não agradou a população árabe e, de lá para cá, vários conflitos acerca desta questão foram travados: em 1967, Israel ocupa Gaza; ataque árabe sobre Israel no dia de “Yom Kippur”, em 1973; surgimento do Hamas, em 1992, de cunho religioso; construção de um muro entre as populações por parte de Israel, em 2004.

Enquanto isso, conflitos internos na Palestina sacudiam a organização do país. Em 2006, o Hamas vence as eleições e passa a atirar mísseis em Israel. Ao mesmo tempo, americanos e judeus desconsideram o resultado da eleição por julgarem os vencedores terroristas e contra atacam. Porém, com auxílio do Hezbollah, os radicais saem vitoriosos. Um ano mais tarde, o Hamas aplica o golpe sobre Fatah – grupo laico político palestino – e assume Gaza. Enquanto isso, o Fatah mantém o controle da Cisjordânia e passa a estreitar relações com Israel.
Desta vez, o combate está centralizado sobre o fechamento de uma passagem subterrânea por Israel, a qual servia de acesso do Hamas a armas vindas do Egito, com a finalidade, provavelmente, de ataque ao judeus.

No entanto, apesar da luta ser "compreensível", a ofensiva israelense atua com extrema violência e hostilidade contra milhões de civis, em um espaço de direito quase universal, em virtude da ligação sagrada que parte das religiões mundiais têm com o local. Os judeus possuem um exército extremamente qualificado e bem armado, com inteligência avançada etc.; assim, porque avançar sobre os citadinos, já oprimidos pela miséria da região? É verdade que os líderes “terroristas” do Hamas, financiados pelos patronos da Síria e Irã, se escondem dentro da população. Mas, e a inteligência tão discutida, tão ostentada?


O combate contra o Hamas, que argumenta defender os direitos palestinos, deve ocorrer de outra forma! Que os judeus convoquem os europeus, os sul-americanos, asiáticos, e discutam tal ação, de maneira diplomática, de modo que tais negociações garantam um novo posicionamento entre os envolvidos; mas que não conversem com os Estados Unidos, os quais só sabem disparar mísseis, bombas e que, inclusive, foram os únicos a votar contra a Resolução de cessar fogo proposta pela ONU.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Municípios brasileiros...

A pesquisa realizada pela ONG “Transparência Municipal” a respeito do perfil dos prefeitos (as) eleitos (as) em 2008 que assumiram e/ou reassumiram suas respectivas prefeituras em 1º de janeiro de 2009, revelou dados interessantes. Dos mais de 5.563 prefeitos (as) que foram empossados (as), 514, ou 9,24% destes, não possuem o ensino fundamental concluído.

Segundo a mesma pesquisa, a maioria destes indivíduos ocupará o cargo em municípios de até 5.000 habitantes, o que revela, ao mesmo tempo, que quanto maior o município, maior a necessidade e grau de instrução daquele que lá quiser palpitar.

Por isso, nosso esforçado presidente é uma rara exceção.

O desânimo também se reflete em relação à participação feminina. Apenas 8,99% de mulheres ocuparão tais cargos entre 2009 e 2012.

Tais dados, inegavelmente, revelam a existência de inúmeros paralelos acerca do processo eleitoral brasileiro e mundial: desde as primeiras organizações sociais de que se têm informações, as “repartições públicas” destinadas à gerência das cidades estado, eram coordenadas por homens. E, no século XXI, ainda são reais os resquícios comportamentais desiguais de milhares de anos. São os partidos que não cedem espaço, é a mídia que não apóia, são os eleitores que desconfiam...

Quanto ao nível de instrução dos eleitos, ou o candidato “burro” não se atreve a ingressar em uma grande cidade, ou o “inteligente” é arrogante o suficiente para não concorrer a um pequeno município brasileiro. Todos querem os grandes orçamentos e flashes oriundos dos maiores municípios, em contrapartida do esquecimento e obscuridade “caipira”. Contudo, eles não sabem, ou fingem não saber, que as reformas começam por baixo, por onde é mais fácil, justamente pela razão do problema ser mais superficial.