sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Otimismo...

Em Praia Grande, litoral sul de São Paulo, após dias sem acesso à internet – utensílio pós-moderno do qual sofro em ficar distante – consegui, finalmente, vir a uma lan house e escrever o último post do ano.

2008 foi um ano cheio, mas bastante cheio de vivências sociais que poderão ensinar muito às pessoas. No entanto, infelizmente, os interesses são distintos e atrelados à incessante conquista e acúmulo de capital.

Deveríamos, se capaz fossemos, transpor ao cotidiano opressor, as inteligentes, sarcásticas e irônicas palavras de Machado de Assis. As sociedades que viveram este ano, e, consequentemente, o centenário de sua morte, seriam alvos do saudoso escritor negro.

Deveríamos, se capaz fossemos, de ultrapassar as mesmices, o tradicionalismo chato, sem graça, não melódico, melancólico e “viajar” no ritmo às vezes cadenciado, às vezes voraz, rápido, sem jeito, mas, no fim, um perfeito fraseado musical, à João Gilberto. Os mais radicais até podem discutir a proposta alienadora da Bossa Nova, a qual completou, em 2008, 50 anos, com suas composições realizadas, na maioria das vezes, de frente para o mar. Contudo, o valor musical de Tom, Vinícius e João são indiscutíveis.

Mas não! Compactuamos, mesmo que indiretamente, com a miséria, com a fome e violência que assolam o Brasil e os mais pobres e/ou emergentes. Assistimos à violência nos grandes centros urbanos como se tudo fosse normal. Milhares de jovens mortos em virtude do descaso público, que atua por intermédio de interesses particulares. Alcançamos com nossa vista muitos indivíduos vivendo em condições precárias, questionáveis até por órgãos de fiscalização sanitária que possuem os parâmetros mais contraditórios. Homens, mulheres e crianças trabalhando com o sol, invencível, sobre suas cabeças. Desidratados, esfomeados, buscando um dinheirinho qualquer que garanta a alimentação momentânea, diária, sem, contudo, a garantia do dia seguinte. Nos mobilizamos às causas “nobres” no calor das emoções, apenas. Vimos, todos, enchentes matando e arruinando a família de catarinenses, paulistas, fluminenses e mineiros. Mas, no máximo, um “Ai, meu Deus. Que desgraça!” Quando não, furtam mantimentos destinados aos desalojados.

Que fique claro, porém, que não tenho a intenção, em momento algum, de generalizar os indivíduos. Sei que existem muitos seres que procuram viver em harmonia e propagar o ideal de fraternidade e generosidade. Instituições sociais filantrópicas, Defesa Civil e seus assistentes etc.

Também foi em 2008 que a Declaração Universal dos Direitos Humanos completou 60 anos. Pois é... Será que algo mudou de forma literal? A Constituição Brasileira, neste ano que está prestes a terminar, chegou aos vinte anos. E daí! Será que os direitos, teoricamente assegurados por tais impressões, são considerados? Negros, islâmicos, mulheres, deficientes e pobres gozam dos mesmos privilégios sociais que outros?

Não sou otimista ao futuro da humanidade. Não obstante, senão nesses momentos de renovação de calendário – cristão, no caso – quando nos dispomos e prometemos integração às dietas mirabolantes com a finalidade de nos enquadrarmos em padrões estéticos ou estudar, buscar um novo emprego, para igualmente sermos mais aceitos nesta sociedade hierárquica regida pela posição social, quando seremos dispostos à solução favorável das situações, ainda que estas se apresentem da maneira mais truculenta possível?

Tentemos, em 2009, sermos fraternos e felizes!

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Política no futebol? No Brasil?

Por que o brasileiro é incapaz de misturar futebol com política?

Neste domingo último, 14/12, apesar de notícia e estímulo à manifestação na Folha de São Paulo, apenas 13, exatamente 13 indivíduos foram à Praça Charles Muller, em frente ao estádio do Pacaembu, em São Paulo, protestar contra a morte do torcedor são-paulino por um policial em Brasília, na última rodada do campeonato. É verdade que o torcedor, vinculado à torcida Dragões da Real, estava, juntamente a outros desta e outra organizada, em confronto com torcedores do Goiás, mas nada justifica o despreparo do Estado.


Este PM que obteve, posteriormente, “habeas-corpus” pela justiça candanga.

O protesto, organizado pela equipe de futebol amador Autônomos FC, composta por corintianos, juventinos, santistas, flamenguistas e portugueses, simbolizou uma partida de futebol contra a Polícia Militar, a qual, evidentemente, foi vencida pelos praticantes do esporte bretão por prazer, por entusiasmo, por W.O.

O futebol pode e deveria ser misturado com política, uma vez que é notório seu poder de interferência e abrangência sobre a população brasileira. Poderia representar um trampolim às práticas coletivas e democráticas que mirassem, invariavelmente, a igualdade, a justiça.

Abaixo, uma foto da torcida do Bayern de Munchen contra o Lyon, em jogo válido pelaUEFA Champions League, em 10 de dezembro.

Diferença entre o Corinthians e o São Paulo!

Ao assistir, via internet, uma matéria na ESPN Brasil sobre a preferência dos paulistanos entre as recentes contratações de Corinthians e São Paulo, Ronaldo e Washington, respectivamente, refleti: apesar dos inúmeros deslizes existentes na administração do tricolor paulista, os quais, de modo bastante eficiente, são contornados, o que faz desta equipe uma referência para o futebol brasileiro?

Enquanto o Corinthians contratou um quase ex-jogador de futebol, o São Paulo, na contramão, contratou um baita atacante. Embora possuam idade próxima, Ronaldo, 32, Washington, 33, é evidente que, ao menos instantaneamente, aos sensatos, as aquisições representem sentimentos distintos. O primeiro não passa de retorno midiático e o segundo ainda é, sem dúvida, um artilheiro nato.

É evidente que Ronaldo pode ser, como já foi, um grande jogador, principalmente em virtude do histórico de recuperação de lesões do (ex) atleta. Mas, não passa de aposta. Washington, em 2008, mostrou-se em forma, valente e, acima de tudo, goleador.

A contratação de Ronaldo, pela esperta cartolagem corintiana, representa a pós-moderna prática do pão e circo, já que a eleição para presidência do clube está aí, em fevereiro 09.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Dá para acreditar?




"A minha paixão antiga, que a mulher dele não saiba, é o René. Esse namoro existe desde 2004, quando ele foi treinar as meninas lá em Atenas. Ele conseguiu fazer com que as mulheres, com dois neurônios, fossem vice campeãs olímpicas”.

A frase de tamanha estupidez foi proferida por Roberto Horcades, presidente do Fluminense.

Horcades é médico cardiologista.

O infeliz, na coletiva, poderia ter falado a respeito da péssima campanha da equipe no Brasileiro 08 ou da crescente dívida do clube com a União e particulares. No entanto, obviamente, fugiu destes sinuosos assuntos. E, para piorar, falou o que falou.

A imprensa futebolística, machista em sua maioria, porém, jamais forçará um retificação por parte do cartola.

Lamentável...

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

"Os fuzis", de Ruy Guerra (1963)


Ruy Guerra, o moçambicano radicado no Brasil possui fama de temperamental. Exige muito compromisso da equipe técnica do filme – produtores, atores, etc. –, e já chegou a ficar um dia para fazer um plano. Para se ter uma idéia, Ruy Guerra concentra, em seus amigos mais íntimos, Chico Buarque de Holanda e Gabriel García Márquez.

"Os Fuzis" retrata os famintos habitantes do árido sertão nordestino que são conduzidos por um beato de um boi santo que, segundo o “profeta”, trará chuva para liquidar com a seca: está evidente a alienação e a loucura de um povo em delírio pela fome latente.

Os miseráveis e seu “profeta” estão em uma cidadezinha quando o então prefeito da região, com receio de uma ingovernável manifestação em torno dos alimentos de um comércio, dá ordens a soldados que impeçam a aproximação miserável, a fim de garantir a segurança do armazém e, conseqüentemente, reprimir a fome. A situação agrava-se a partir dos prejuízos financeiros acumulados pelo comerciante que vende fiado aos habitantes da região e da inadimplência do governo que não paga o bônus que deve.

Gaúcho, personagem da trama, é reconhecido por Mário, um dos soldados que garantem a vigilância do local; ambos conheceram-se em uma operação policial que expulsava posseiros de terras particulares. No diálogo, Gaúcho expõe a Mário que não entende o posicionamento do governo que, diante do miserabilismo daquela região, ao invés de enviar comida e mantimentos aos habitantes, manda soldados. Enquanto fazem a vigília à espera do caminhão que irá levar os alimentos, os policiais, ociosos, apostam, com o propósito de acertar um cabrito que havia fugido. Ao atirar, o policial acerta um homem, o dono do cabrito. Para não criar mal-estar na população, dizem que o homem foi encontrado morto e quem o matou foi um forasteiro.

Enquanto isso, o caminhão chega para levar a comida estocada do armazém. Os policiais, assustados, vigiam tudo sob olhares famintos da população, que vê a comida ir embora. Um homem chega ao bar pedindo uma caixa para enterrar o filho, que morrera de fome. Gaúcho se revolta com a passividade e covardia da população. Rouba a arma de um policial e atira no caminhão. Na troca de tiros, Gaúcho morre. Esta guerra é solitária, individual. E o boi, que até então era santo para os fiéis, é morto e toda a população avança para pegar um pedaço da carne.

O filme é rodado em 1963, pré-golpe, e parece prever a condição catastrófica que atingirá o país. Mostrar militares reacionários que obedecem aos interesses e valores da classe dominante, à época, representou um cataclísmico destino.

Sapatada em Bush...

A tentativa de agressão ao até então presidente dos Estados Unidos George W. Bush foi, sem dúvida, o desfecho simbólico de um governo inescrupuloso, principalmente com relação aos muçulmanos. O jornalista iraquiano Muntazer al Zaidi, da TV Al Bagdadia, que atirou o sapato em direção ao imperialista, após ser contido por seguranças, esbravejou: “este é seu beijo de despedida, seu cachorro”.

Para os mais atentos, de qualquer forma, o sapato atirado pelo jornalista, apesar de não ter acertado em cheio na cara de Bush, bateu na bandeira norte estadunidense, ao fundo. Prestem atenção no vídeo.

Na cultura muçulmana, aquele que é atingido com um sapato é considerado impuro. Tal situação é vista com tamanho insulto em virtude do sapato estar em direto contato com o chão e a sujeira. Quanto ao cachorro, o qual para o mundo ocidental representa fidelidade e talvez seja o animal doméstico mais popular, no oriente muçulmano é tido de maneira oposta, ou seja, é necessário evitá-los. Isso ocorre porque, em geral, os muçulmanos acreditam que a saliva canina invalida a pureza ritual necessária para a oração e devoção à Meca.

Todos sabemos que Bush, com desculpa do combate ao terrorismo, abriu suas vísceras ao Iraque com o propósito da conquista do petróleo, abundante na região. Desse modo, contribuiu, mesmo que de modo indireto, para uma singela democratização do espaço – a enormes conseqüências e violência – em razão de fazer concorrência a Saddam Hussen. Contudo, tal episódio revela um irônico paradoxo, pois, antes da chegada militar americana, igualmente a Bush, Saddam também era alvo dos sapatos dos citadinos.

Mais de 200 advogados muçulmanos já se manifestaram em favor à defesa de Muntazer al Zaidi, a custo zero. Alegam preservação ideológica.

Como diz José Simão, “para ir às terras que ele destruiu, não precisava ir tão longe, ficava nos EUA mesmo”.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Enfim, uma vitória!



Em favor da pluralidade cultural do Brasil, o STF (Supremo Tribunal Federal), por meio do ministro Marco Aurélio Mello, deve atender à demarcação contínua da Terra Indígena Raposa / Serra do Sol, em Roraima. O local é ocupado por 20 mil índios, das etnias Macuxi, Patamona, Taurepang, Ingaricó e Wapichana e a apoderação do espaço por indivíduos não-índios, rizicultores, de objetivos puramente econômicos, fere os direitos culturais constitucionalmente garantidos aos indígenas.

Os arrozeiros, os quais não possuem títulos de propriedade do espaço em questão, são contra a demarcação de forma contínua em virtude de estimular o desenfrear da economia. Mentira! São usurpadores gananciosos, com o discurso fajuto de produtores nacionais. Manipulam a opinião pública com argumentos de que suas posturas geram emprego e renda à região. Hoje em dia, ao menos a tendência, é fazer oposição ao desenvolvimento insustentável e, a prática destes produtores rurais, para choque de alguns, rompe com tal proposta, em uma região que possui relevante papel ecológico, em contexto mundial.

Faço coro ao discurso da ABA (Associação Brasileira de Antropologia), que defende que os direitos indígenas sobre suas terras e a preservação da pluralidade étnica no Brasil devem sobrepor-se, invariavelmente, aos interesses econômicos particulares. Os indígenas são detentores, exclusivos, da TI Raposa / Serra do Sol e suas respectivas riquezas naturais.

Felizmente, apesar do adiamento da decisão final para fevereiro do ano que vem, quando o judiciário retorna de suas férias, alguns ministros anteciparam seus votos e, por 8 a 3, a Corte se manifestou em favor da homologação e a expulsão dos arrozeiros da região. Contudo, mais estimulante, é saber que tal decisão servirá como referência às demais ações que tramitam na Suprema Corte e que também dizem respeito à homologação de áreas indígenas.

Polêmica ao redor da Casa Branca...


Segundo o jornal “The New York Times”, em denúncia apresentada à Justiça americana pelo FBI, o deputado democrata Jesse Jackson Jr., de Illinois, filho do reverendo e ativista político Jesse Jackson, pré-candidato à presidência dos Estados Unidos em duas oportunidades e que chorou efusivamente pela vitória de Barack Obama, é o “candidato 5”, identificado nas investigações a respeito da sucessão do novo presidente no Senado. O rolo se dá pela razão de, no Estado de Illinois, a indicação partir por indicação do governador, que, no caso, é Rod Blagojevich.

Ao todo são seis candidatos à ocupação da cadeira deixada por Obama. Conforme apuração do mesmo jornal, as escutas contam que o governador disse a um interlocutor que o “candidato 5” ofereceu-se a levantar US$ 500 mil em troca da tal indicação. Em outra conversa, o governador afirma que indicaria o “candidato 5” mesmo a despeito de Obama, a não ser que o presidente eleito, hipoteticamente, oferecesse à mulher dele, governador, um cargo remunerado na diretoria de uma empresa.

Logo após a divulgação da suspeita à imprensa, Jesse Jackson Jr., convocou uma coletiva e disse: “Nunca enviei qualquer mensagem ou qualquer emissário ao governador para fazer ofertas em meu benefício ou propor algum acordo por uma cadeira no Senado. Ponto final”.

Ontem, quarta-feira, Obama defendeu a renúncia de Rod Blagojevich e que, ao mesmo tempo, a Assembléia Geral do Estado fique encarregada da escolha de seu sucessor no Senado. Contudo, a lei do Estado, como já dito, defende que a escolha cabe, apenas, ao governador. Pior, apesar de comprovada a participação de Blagojevich no esquema, ele nega todas as acusação e, por isso, não dá sinais de planejar abdicar do cargo e defende a manutenção da legislação. Blagojevich foi preso por agentes do FBI ontem, mas acabou solto ao fim do dia, como acontece no Brasil, após pagamento de fiança de US$ 4.500 (R$ 10.900 aproximadamente).

É fundamental que o novo presidente faça votos contra a postura de Blagojevich e Jackson, responsáveis pelo primeiro estouro administrativo da era Obama, com o propósito de sustentar o ideal moral de um governo que, diretamente, ainda nem começou. Dá palpites, nada mais.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Papai Noel às avessas?




O anúncio de Ronaldo Nazário, o “Fenômeno”, agora a pouco, como o mais novo reforço do Corinthians, certamente representará a principal atração do futebol brasileiro da temporada 09. Este clube que tem, inexplicavelmente, a mania de atrair para si os holofotes da imprensa, pois, em relação a 2008, quando esteve rebaixado à Série B, conquistou, paradoxalmente, o maior contrato de patrocínio de camisas do Brasil e figurou nas tardes globais para a praça paulistana, algo inédito até então.
Segundo o vice-diretor de Marketing do Corinthians, Luís Paulo Rosemberg, Ronaldo “quer a Copa do Mundo de 2010. Se quisesse só dinheiro iria para o Manchester City ou para o mundo árabe, onde as ofertas são estratosféricas. Se quisesse só gozar a vida, ficaria no Flamengo, com as maravilhas do Rio. Mas está disposto a abrir mão de grana e de mostrar que quer voltar para valer. E conosco, pode escrever. Sim, aqui têm um bando de loucos, mas, repito, pode escrever".

As possibilidades de ganho de dinheiro em virtude de uma ligação direta com a marca “Fenômeno” são enormes. Camisas numeradas a 9 venderão em demasia, representando até 85% do público nos estádios em que o Corinthians jogará, os quais certamente ficarão lotados; fácil aquisição de um novo patrocinador de camisas; ampliação da marca Corinthians para o restante do mundo, já que toda a imprensa mundial cobrirá o retorno aos gramados de um dos mais populares jogadores de futebol e, em conseqüência deste, até a conquista do mercado asiático, onde Ronaldo é tão popular quanto os joguinhos virtuais.

O fato é que, o Marketing futebolístico é visto, por boa parte dos incompetentes cartolas tupiniquins, como fim, e não como meio. Em que condição estaria Ronaldo? Sabemos que o “Fenômeno” está parado desde fevereiro/08, quando, em uma partida válida pelo campeonato italiano, jogando pelo Milan, rompeu os ligamentos do joelho. De lá pra cá, notícias de confusão com travestis e festas em alto mar, só. Sua condição física, apesar de aparentemente debilitada, foi considerada satisfatória pelo médico corintiano Joaquim Grava. No entanto, Ronaldo, se vier a voltar a jogar futebol com qualidade, mesmo que não fique próximo do nível que já jogou, no Brasil, onde os jogadores, em média, são muito ruins, poderá até, quem sabe, retornar à seleção.

Do outro lado, os flamenguistas estão irritadíssimos, se sentindo traídos, pela razão de Ronaldo, muitas vezes, declarar-se rubro-negro, vestir o uniforme e discursar que adoraria encerrar a carreira pelo clube da Gávea. Esse é o mundo do futebol, onde não há espaço para a paixão, que cada vez mais está restrita às arquibancadas.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Título manchado?





O mais novo e polêmico caso de arbitragem no futebol brasileiro aconteceu sábado, véspera da rodada final do Campeonato Brasileiro de 2008, quando seria, como foi, decretado campeão, participantes da Libertadores da América e Sul-americana e rebaixados à Série B da competição nacional de 2009.

Nesta data, a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) recebeu uma denúncia do Ministério Público sobre a possibilidade de manipulação do resultado da partida entre São Paulo e Goiás, que ocorreria em Gama, Distrito Federal. Soube porque houve a intercepção de um envelope supostamente endereçado a Wagner Tardelli, árbitro de futebol o qual, previamente, fora definido em sorteio para sentenciar o tal jogo. O envelope continha, hipoteticamente, uma quantia em dinheiro e ingressos para o show da Madonna, o qual ocorrerá nas dependências do estádio do Morumbi, em São Paulo.

Segundo Juca Kfouri, o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, teria sido alertado não pelo Ministério Público, mas pelo presidente da FPF (Federação Paulista de Futebol), Marco Polo Del Nero, com quem, o presidente do São Paulo, Juvenal Juvêncio, se dá apenas formalmente. O que se sabe, é que Reinaldo Carneiro Bastos, vice-presidente da FPF, pediu ingressos para o show da Madonna. Assim, a diretoria são-paulina os mandou, devidamente protocolados, como cortesia. Contudo, Marco Polo Del Nero, presidente da FPF e palmeirense fanático, ao descobrir, ligou para Ricardo Teixeira, pois, segundo uma fonte na CBF, "o São Paulo sempre faz essas coisas, que não deveria, ainda mais na véspera de uma decisão”.

Não obstante, nos meios do futebol sempre se comentou a pouca amizade entre o presidente e vice da FPF, Merco Polo e Carneiro Bastos. O conflito entre os cartolas começou quando o até então presidente Eduardo José Farah, incomodado com o encalço dos Oficiais de Justiça da CPI do Futebol, se desligou da entidade, para, finalmente, curtir sua pomposa aposentadoria. Assim, Farah seria substituído por Bastos, em comum acordo com Del Nero que, por ser mais velho, teria o direito estatuário da sucedê-lo. No entanto, Del Nero não cumpriu o que fora articulado e assumiu. Desde então, a relação é de mera convivência e, talvez por essa razão, que Del Nero achou plausível descortinar a próxima relação entre Juvenal Juvêncio e Carneiro Bastos.

De acordo com apuração da Folha, dirigentes da FPF, que não falam oficialmente pela entidade, afirmam que a secretária do presidente tricolor telefonou para a secretária de Del Nero a fim de entregar ingressos do show da cantora Madonna para convidados da FPF, dentre eles, Wagner Tardelli.

Lembremos que Bastos, inclusive, fora acusado por Edílson Pereira de Carvalho, em 2005, por pressioná-lo à manipulação de resultados daquele campeonato nacional, vencido pelo Corinthians, de maneira igualmente polêmica.

Ricardo Teixeira, desse modo, aconselhado pelos seus atrapalhados consultores midiáticos, afastou o árbitro Wagner Tardelli da partida entre São Paulo e Goiás, com o propósito de transpassar, ao menos simbolicamente, a idéia de moralidade pública. Porém, após o novo sorteio da arbitragem, o tricolor paulista chiou. Emitiu gritos agudos porque o novo juiz, Jailson Macedo Freitas, da Bahia, foi o único, durante todo o campeonato, a marcar um tiro livre indireto por seis segundos de retenção de bola da parte de um goleiro no Brasileirão 2008. Marcou em favor do Grêmio, no Olímpico, em jogo que o tricolor gaúcho perdia por 1 a 0 para o Figueirense e empatou o jogo como fruto da cobrança da falta, que não aconteceu.

Na ocasião, escreveu Juca Kfouri em seu blog: "Enquanto o tricolor paulista ganhava bem, o Grêmio sofria um gol do Figueirense aos 8 minutos do primeiro tempo e só empatava no fim do primeiro tempo, graças à invenção do árbitro que viu o goleiro catarinense ficar mais de 6 segundos com a bola, coisa que ninguém marca, mas, pior, coisa que não aconteceu".

Escândalos envolvendo arbitragem no futebol brasileiro não são, em hipótese alguma, novidade. Apenas na gestão Teixeira, somam-se ao mais recente, o “caso Ivens Mendes”, o “caso Loebeling” e o “caso Edílson”, todos com desfecho em marmelada. Quanto a esta última acusação, esperemos as apurações e uma resolução próxima da moralidade e ética esportiva.

No fim, o São Paulo, com erro de arbitragem, sagrou-se tricampeão consecutivo, contabilizando sua sexta conquista nacional. Não afirmo, de modo algum, que houve interferência externa no erro do bandeira que validou um gol são-paulino, ainda no começo do primeiro tempo, que estava muito, mas muito irregular, já que o atacante Borges se encontrava há 1,31m em impedimento, em um lance definido como de fácil interpretação pelos cronistas e ex-árbitros de futebol que figuram nas mesas redondas de domingo à noite. Mas essa coincidência, sem dúvida, revela uma extrema ironia do destino e talvez contribua a manchar a conquista são-paulina de 2008.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Fiel torcida corintiana...



Hoje, 05/12/08, são completados 32 anos do maior capítulo de amor entre uma torcida de futebol e seu respectivo clube: Invasão Corintiana.

Em 05/12/1976, mais de 70 mil corintianos partiram de São Paulo e outras regiões do país com destino à cidade maravilhosa, com o propósito de assistir à partida do Timão ante o Fluminense, o qual, inclusive, contava com Rivelino, ídolo alvinegro. O embate era válido pela semifinal do Campeonato Brasileiro e, após empate no tempo normal, o Corinthians venceu a “máquina tricolor” por quatro a dois nos pênaltis, com atuação irretocável de Tobias, que defendeu as cobranças de Rodrigues Neto e Carlos Alberto Torres. Como o público total foi de 146 mil espectadores, a torcida corintiana dividiu o maior do mundo com o tricolores do pó de arroz.

“Ninguém sabia, ninguém desconfiava. O jogo começou na véspera, quando a Fiel explodiu na cidade. Durante toda a madrugada, os fanáticos do Timão faziam uma festa no Leme, em Copacabana, Leblon, Ipanema. E as bandeiras do Corinthians ventavam em procela. Ali, chegavam os corinthianos, aos borbotões. Ônibus, aviação, carros particulares, táxis, a pé, a bicicleta. Nunca uma torcida invadiu outro estado com tamanha euforia. Um turista que por aqui passasse, havia de anotar no seu caderninho: [O Rio é uma cidade ocupada]. Os corinthianos passavam a toda hora e em toda parte”.
Nelson Rodrigues (dramaturgo e fanático Tricolor).
Assistam ao vídeo e arrepiem-se!

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

América avermelhada, de novo!



Não gosto do Internacional. Como todo bom corintiano, passei do estagio do não simpatizar ao de não gostar do colorado gaúcho, em virtude deste ter “abrido as pernas” (apesar da expressão pouco sutil) ao Goiás, ao final de 2007, resultado que contribuiu para a queda do Corinthians à Série B do futebol brasileiro.

Sei que a queda de meu time ocorreu em função de várias situações fraudulentas e obscuras. Contudo, não sou jornalista esportivo e, mesmo que fosse, não faria a linha do “em cima do muro”.

Mas, de qualquer forma, o Internacional, ontem, sagrou-se campeão sul-americano, em um jogo em que não esteve bem e viu, sobre o apito sorridente do juiz, o título endereçado a sua sede. Houve um erro gravíssimo de arbitragem, o qual, pelo viés global, tendencioso e parcial de Galvão Bueno, pouco foi comentado. Claro, o equívoco beneficiou o time brasileiro. Caso o engano favorecesse o argentino, certamente haveria choradeira por parte da emissora carioca. Ah, quase me esqueço. Na Argentina, o Internacional também marcou seu gol em um pênalti irregular.

Também faço ressalvas ao comportamento da torcida. Só foi capaz de fazer festa e empurrar o time enquanto o desenrolar lhe foi conveniente. No momento em que a equipe precisou de sua colaboração, após tomar o gol e passar a jogar mal, a galera sumiu.

No entanto, o Internacional, desde a administração de Fernando Carvalho, têm-se profissionalizado em demasia. Nos últimos anos conquistou a América, o Mundo e a Recopa, além de boas campanhas em competições nacionais. Assim, tornou-se o único clube brasileiro, apesar de não ser o mais glorioso, posto ostentado pelo São Paulo, a possuir todos os títulos possíveis por uma equipe de futebol brasileira. É de se levar em consideração, sem dúvida.

No mais, apenas fico feliz pelo gol do título ter sido feito por Nilmar, o qual inclusive deu muitas alegrias à fiel corintiana. Sofreu duas sérias lesões, coincidentemente contra o arqui-rival Palmeiras, mas recuperou-se e está voando na equipe que o projetou. E mais, que este gol não tenha sido marcado por Gustavo Nery, lateral-esquerdo conhecido como "chinelinho", daqueles que não gostam de treinar e costumam “pipocar” quando o calo aperta. Ele não merece essa glória!

Com certeza o Internacional estará bastante forte em 2009, centenário do clube.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

"Delicatessen", de Jeunet, (1991)



Comecemos pelo princípio. Apesar da redundância, a apresentação do filme “Delicatessen” é primorosa, à Scorcese, deixando claro ao espectador, nos primeiros cinco minutos de fita, quais são as virtudes dos realizadores, mais precisamente em Jeunet, o qual também assina, posteriormente, “O Fabuloso Destino de Amelie Poulain”, de 2001. O clima misterioso, dotado de detalhes extravagantes, como o comportamento de um homem coberto de jornais seguros por fita adesiva ou a intensa apreensão do açougueiro ao afiar suas longas facas e olhar compulsivo através da janela, coordenados, em conjunto, por uma música que mistura angústia e suspense caracterizam o porte colorido que origina o filme.

Assim, a história se desenvolve sobre uma esfera apocalíptica, pouco compreensível, provavelmente em referência a um futuro não muito distante, apesar de a todo instante, os diálogos, objetos e complementos de cena fazerem alusão ao passado, independentemente de qual seja este. Para se ter uma idéia, o jornal lido por uma das personagens é denominado “Tempos Difíceis” e a moeda, o dinheiro, embora não seja evidenciado, enquadrado em detalhe, nos faz crer que está ultrapassado, pois um taxista, detentor moral da conquista financeira após oferecer seus serviços a um indivíduo, recusa a quantia que lhe é oferecida quando o sujeito tira algo da carteira. Pede-lhe os sapatos!

“Delicatessen” é o nome do prédio que abriga um açougue e apartamentos domiciliares, no térreo e andares superiores, respectivamente. Louison, personagem principal, é contratado pela direção do estabelecimento para desenvolver atividades no açougue e desempenhar funções de manutenção predial. Lá, demonstra a todos, de maneira indireta, toda sua capacidade lúdica, circense, quando encontra crianças fumando escondidas nas escadas do prédio e, munido por um balde cheio d’água e sabão, interage com os meninos provocando várias bolhas de sabão compactas pelas fumaças do cigarro. No fim, a movimentação dos atores é cortada pela chegada de outra personagem. Talvez a finalização da cena ficasse mais envolvente com a devolução do cigarro às crianças.

Além da cena citada acima, que contou com uma combinação de sons bastante feliz, ocorrem, durante o desenrolar da fita, outras tantas que trabalham com a música de modo íntimo, arquitetadas com humor – característica de Jounet. A melhor delas sucede quando o açougueiro e sua esposa transam e, pela tubulação pouco espessa, são ouvidos por muitos moradores da velha habitação. Conforme o ritmo, velocidade do sexo, foram feitos os cortes e a movimentação da câmera acompanha sincronizadamente os movimentos e alternâncias corporais dos indivíduos e/ou objetos que "escutam" o ato: um garoto enchendo o pneu da bicicleta; senhora batendo nos tapetes com a finalidade de extirpar o pó; o ponteiro de um relógio antigo; e até uma velha fazendo crochê.

Jounet também soube explorar os recursos cinematográficos. A filha do açougueiro, a qual é incapaz de viver sem os óculos, em um momento de paquera com Louison, tira suas astes dotadas de lentes para correção visual e assim, comete vários deslizes: foco e desfoco. Quanto à fotografia, esta é, durante todo o filme, avermelhada. Imagino um possível paradoxo proposital, em conseqüência do já trabalhado nesta análise. Enquanto o filme aborda um universo provavelmente relacionado ao futuro, sua fotografia possui um quê de antiga, parecendo uma imagem de tecnologia atrasada. Talvez um filme em 16 milímetros.

Contudo, apesar destes pontos bastantes favoráveis, dignos até de uma análise mais fundamentada, o filme, quando atingiu sua primeira hora, me causou cansaço. É fadigante porque não ultrapassa a proposta aqui apresentada, que por sinal é muito interessante, mas só. O roteiro é confuso, espetacular, cheio de pontos passíveis de exclusão e falho na construção das personagens. Parece um capítulo de “A Favorita”, novela global. Tudo acontece muito rapidamente. Não dá para o expectador digerir o que acabou de acontecer e, tudo se modifica de novo. Até consegui rir algumas vezes, mas de maneira pouco convincente.

Certamente houve um grande avanço de maturidade na construção cinematográfica de Jeunet, pois em “Amelie”, o desenrolar é conciso, muito próximo entre forma e intenção. Acredito que Jounet se tornará, dentro de pouco tempo, um dos grandes diretores cinematográficos, responsável talvez por movimentações frenéticas de cinéfilos pelo mundo a cada lançamento.

Lamentável...



A atriz Eva Mendes, que atualmente divulga o filme “The Spirit”, de Frank Miller, no qual ela representa a vilã Sand Saref, quando casada com quatorze maridos diferentes vai matando todos de modo explosivo e sedutor, com o propósito da conquista de jóias, disse, em coletiva: “Adoraria trabalhar com Pedro Almodóvar. Caso ele pedisse, atuaria até como empregada doméstica”.

Ora, minha querida Eva, qual o problema de representar, apenas representar uma empregada doméstica? Você não sairá do filme como uma trabalhadora marginalizada pela sociedade hierárquica e desigual, se é esse o seu temor. Pelo contrário, como atriz hollywoodiana, sairá ainda mais rica.

É no mínimo infeliz o comentário da americana de origem cubana.

Também imagino que a dita cuja não conheça a história de seu país, pois independente da Revolução Cubana ter malogrado, em virtude, principalmente, do bloqueio econômico imposto à ilha pelos Estados Unidos e da pouca habilidade de Fidel Castro na condução da política externa, a pobreza cubana, que culmina em trabalhos pouco dignos ao grosso populacional mundial, como no caso apontado pela atriz, é conseqüência, como no restante da América Espanhola, da abusiva exploração ocorrida na conquista do “Novo Mundo” pelos espanhóis, de onde Almodóvar é proveniente.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

"O Grande Golpe", de Kubrick, (1956)



Certamente, Stanley Kubrick é um dos mais atraentes cineastas. Em “The Killing”, traduzido para português como “O Grande Golpe”, o diretor rompe a temporalidade tradicional, linear. A narrativa adotada, à época do filme, 1956, causou espanto e muita crítica por parte de boa parcela dos espectadores, apesar de não ser novidade, em virtude de Orson Welles já utilizá-la com extrema habilidade, bastante evidente, inclusive, em “Cidadão Kane”, de 1941. Assim, como no filme de Welles, a quebra da temporalidade contribui em demasia ao desenvolvimento da trama, à narrativa misteriosa, cheia de suspense.

A fita conta a história de um ex-prisioneiro que elabora o roubo de um grande hipódromo de Chicago. Este, denominado Johnny Clay, para justificar seu comportamento, em roteiro desenvolvido pelo próprio Kubrick e Lionel White, diz: “Nenhum dos homens é bandido no sentido habitual. Todos têm empregos. Todos vivem de forma normal. Decentes. Mas todos têm seus problemas e uma pitada de safadeza também!”. Dessa forma, Kubrick e White procuram expor o processo de entendimento da vida por parte da personagem, a qual ultrapassa, sem grandes problemas, os limites sociais predeterminados, com a finalidade da conquista da tão sonhada "grana" – US$ 2 milhões.

Para atingir tal meta, Johnny articula o plano com o “barman” do hipódromo, um dos “caixas” do mesmo estabelecimento, um ex-boxeador, com a incumbência de brigar com os policiais responsáveis pela guarda do dinheiro das apostas, um atirador, que deveria matar o cavalo favorito à vitória em plena pista e assim contribuir para o caos, e um policial, o qual, coincidentemente, possui uma semelhança incrível com o até então presidente dos Estados Unidos George W. Bush.

Contudo, antes do clímax, a história apresenta relações de gênero substanciais para o desfecho da trama. Enquanto Johnny encontra ao seu lado uma mulher submissa, pronta para qualquer eventualidade que pudesse comprometer o sucesso da jornada, George, “o caixa”, tem em sua esposa a ganância, a necessidade do acúmulo de riquezas. O contraponto ocorra talvez pelo filme ser “noir” e representar, desse modo, o período pós-depressão. Assim, George, dependente emocionalmente de sua esposa, a qual é negligente à “condição natural” imposta às mulheres, é pressionado por esta a contar-lhe o plano. No entanto, Sherry, sua mulher, possui um amante, com o qual, diferentemente de George, mantém relação de súplica e servidão. Porquanto, Sherry confia o “grande golpe” ao amante, com o propósito de armação de um contragolpe e, por fim, a fuga, de preferência, milionária. Aqui vale destaque mais uma vez à construção pormenor da narrativa e imenso censo técnico de Kubrick. Nas cenas que marcam as negociações, as jogadas obscuras, os esquemas entre os apostadores, a iluminação é bastante eficaz, pois coopera para a manutenção da proposta “noir” e do ritmo misterioso que toma conta do espectador, mesmo dos mais ranzinzas, onde me enquadro.

O nó é desenlaçado quando o amante de Sherry, acompanhado por um capanga, invade o apartamento onde a quadrilha esperava por Johnny e metralha todos. Lembram que ele fora informado por Sherry de todos os meandros do roubo? No fim, após a descoberta de Johnny da morte de todos os envolvidos, este, que previamente havia comprado passagens de avião com o objetivo da fuga bastante rápida, é impossibilitado e embarcar com a mala cheia de dólares consigo, como bagagem de mão, em função de sua mala ultrapassar a pesagem limite. Johnny até procura argumentar com o atendente e, posteriormente, com o gerente, mas lhe é negada a permissão. Assim, extremamente pressionado, despacha a bagagem e, à pista, pronto para subir as escadas da aeronave, observa o motorista do carrinho de bagagens perder o controle, tombar com o veículo e, conseqüentemente, sua mala, que abre com as milhares de notas expostas aos curiosos que se aglomeram. É preso!

Qual seria a moral da história? Provavelmente e infelizmente, Kubrick compactua com os desfechos tradicionais dos filmes que marcaram o período. A conclusão da moralidade pública, da manutenção de uma ordem conivente às elites, já que durante e posteriormente à Depressão, o crescimento da marginalidade foi bastante significativo e assim, contrário aos interesses dos poderes da época, os quais queriam, evidentemente, garantir seus privilégios sociais. Considero este o único equívoco de Kubrick, pois ao restante da fita cabem diversas considerações positivas, desde o cuidado às cenas, a partir da cenografia e construção do elenco e figurantes, à já citada fotografia e utilização temporal.

E agora Dantas?

Por mais incrível que possa parecer, o juiz Fausto Martins de Sanctis, da 6ª Vara Criminal, após quase cinco meses de investigações, acusações e retaliações, enfim, acaba de condenar o banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity, a dez anos de prisão, sob alegação de crimes de gestão fraudulenta e corrupção.

As investigações começaram a partir dos desdobramentos referentes ao caso Mensalão, quando empresas como a Telemig e Amazônia Celular, até então controladas pelo grupo Opportunity, apareceram como financiadoras do Valerioduto – repasses de recursos a parlamentares e integrantes do governo e de empresas privadas em troca da liberação de recursos federais – montado pelo publicitário Marcos Valério.

O imbróglio ficou pior quando o até então delegado da Polícia Federal, Protógenes Queiróz, responsável pela condução da investigação Satiagraha, foi questionado sobre os métodos utilizados durante a primeira prisão de Dantas, do investidor Naji Nahas e do ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta (PTB), em julho corrente, quando estes foram flagrados algemados pelas câmeras globais. Assim, indagou-se acerca do possível descumprimento do manual de procedimentos da PF e o vazamento de informações, pois se dizia, à época: “O que custa botar bonés nos suspeitos?”

O clímax se deu com o afastamento de Protógenes, o qual argumentou, sem convincência, de que sua saída do caso ocorreu em função do constante, e necessário, aprimoramento profissional. Contudo, após o término do curso o qual fora obrigado a realizar, até retomou suas atividades na PF, mas foi mantido distante da Satiagraha. Por que será?

O Banco Opportunity é caracterizado por oferecer serviços relacionados à administração de recursos de terceiros. Quanto aos haveres próprios, Dantas, que possui título de Doutor em Economia pela FGV (Faculdade Getúlio Vargas) e de Pós-Doutor no Instituto Tecnológico de Massachusetts, coordena seus funcionários – a maioria familiares – de realizarem apenas operações compromissadas, ou seja, sem risco, a partir de títulos públicos federais, os mais seguros, evidentemente.

Juntamente a Dantas, foram condenados o consultor Hugo Chicaroni e o assessor de Dantas, Humberto Braz a sete anos de prisão. De acordo com a denúncia, os três tentaram subornar o delegado da PF Victor Hugo Rodrigues Alves, quando ofereceram US$ 1 milhão para excluir o nome de Dantas e alguns familiares da investigação.

Segundo o juiz: "O acusado não cessa: insiste, alardeia, ilude e intimida, e mais, desvia o foco, ações típicas de alguém que deseja a qualquer custo encerrar a presente ação penal, com a destruição da Operação Satiagraha, que provocou muita reflexão deste juízo para a tomada de decisão", diz De Sanctis em sua decisão, se referindo a Dantas. "[...] Além do irrenunciável sentimento de desprezo pelas instituições públicas brasileiras, revela, outrossim, intensidade de ação dolosa na prática de crime contra a administração pública [...]."

No entanto, todos poderão apelar à decisão judicial em liberdade, em virtude da jurisdição não ter expedido mandado de prisão.

De todo modo, enfim, caminhamos em direção à moralidade pública!

Unidos pelo fim da violência contra as mulheres!

A Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres do Governo Federal lançou a campanha "Homens Pelo Fim da Violência contra as Mulheres". A recolha de assinaturas, por mais que pareça simbólica, pode representar o início de uma revolução social.

Além do engajamento cotidiano discursivo, devemos adotar a prática participativa! Aos homens, acessem o link e assinem a lista. Às mulheres, propaguem a informação!

Divulguem!