sábado, 28 de março de 2009

Em Brasília...

Segundo levantamento de Gabriel Castro, repórter da CBN São Paulo, o preço de custo do ingresso do amistoso entre Brasil e Portugal, em novembro de 2008, na capital candanga foi de R$ 13,00. Isso mesmo, R$ 13,00.

Em São Paulo, no Pacaembu, e no Rio, no Maracanã, os valores correspondem a R$ 0,50 e R$ 1,60, respectivamente.

Enquanto isso, apesar da aparente fraudulência, os governistas de Brasília tremem ao ouvir falar em CPI, pois temem quanto a candidatura da cidade a sede da Copa de 2014.

Quantos serão os desvios e os benefícios individuais, particulares ou não, para a formulação e concretização do mais importante torneio de futebol do mundo, em função da experiência devastadora do Pan-RJ em 2007 e da crise capitalista, a qual culminará, inevitavelmente, na utilização de dinheiro público para a construção de estádios, complexos esportivos para treinamento, alojamentos etc?

Como se não fossem necessárias outras reformulações sociais.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Insanidade eclesiástica

Em entrevista concedida à Carta Capital, Rivaldo Mendes de Albuquerque, professor de Medicina da Universidade Estadual de Pernambuco, excomungado semana passada pelo arcebispo de Olinda dom José Cardoso Sobrinho, pela razão da realização do aborto em uma garota que fora estuprada pelo padrasto e, por conseqüência, corria risco de vida, disse:

“A excomunhão não fechou meus olhos para as violências que vejo praticadas, diariamente, contra as mulheres. Sou médico e constato que o aborto é uma questão de saúde pública. A excomunhão em nada ajuda a resolver este problema. Apenas reforça uma postura da Igreja, que não está associada aos que mais precisam. Do ponto de vista religioso, a penalidade é forte, mas não me atinge porque tenho a certeza de que estou ajudando mulheres a saírem de situações extremas. Viver uma situação de violência é como viver no inferno”.

O arcebispo excomungou a mãe, os médicos e a equipe envolvida no procedimento.

É a igreja católica! Esta que, por intermédio de sua maior representação hierárquica, o Vaticano, também declarou que "a maior vitória das mulheres neste último século certamente foi a popularização da máquina de lavar roupas". Tal instituição atingiu o mais alto nível de insanidade, principalmente pelo fato de eximir sanções ao padrasto estuprador!

quarta-feira, 4 de março de 2009

Prosperamos unidos, separados caímos, por Fernando Canzian

A crise já força homens e governos a revelar do que são feitos. Em tempos de prosperidade, boa vontade e fraternidade. Na escassez, sobrevivência em primeiro lugar.

Em várias economias representativas da globalização, uma série de ações protecionistas e protestos contra imigrantes emergiram na semana passada. É mais um sintoma da maior crise de nossa geração. Um fato que tende acentuar problemas futuros em vez de amenizá-los.

Para 2009, o FMI estima uma retração de quase 3% no volume de comércio internacional por conta da crise. Se ficar só nisso, vai sair barato, dada a nova onda protecionista.

O slogan "Buy America" (compre produtos americanos) está novamente em voga nos EUA, e o próprio governo de Barack Obama introduziu no novo pacote de estímulo econômico de US$ 819 bilhões a exigência de que o aço usado nas futuras obras públicas no país seja comprado de siderúrgicas norte-americanas.

O consumo nos EUA caiu a um nível recorde nos últimos seis meses. Se o "Buy America" pegar em meio a essa retração, a China e demais países asiáticos, com o grosso de suas exportações voltadas para os EUA, vão sofrer barbaramente.

Já há notícias de milhares de ex-operários chineses fazendo o caminho de volta da cidade para o campo por conta de demissões em massa em empresas exportadoras. Não vai demorar para o governo chinês, detentor de bilhões de dólares em títulos do Tesouro norte-americano, dar o seu passo.

Na Europa e sua periferia, já aparecem os primeiros sinais evidentes de rachadura na União Europeia e, mais grave, de sérios problemas para alguns países no pacto em torno da moeda única, o euro.

No Reino Unido, centenas de trabalhadores foram às ruas protestar contra a decisão da refinaria francesa Total de contratar empregados italianos e portugueses para um projeto de US$ 280 milhões. "British jobs for british workers", (na Inglaterra, trabalho para trabalhadores britânicos) diziam os cartazes dos que protestavam.

Na Espanha, onde o desemprego bateu em 14%, o maior da União Europeia, o governo está oferecendo US$ 14.000 (R$ 32.200) aos imigrantes que aceitarem voltar a seus países. No principal aeroporto de Madri, Barajas, voltaram os repatriamentos de centenas de latinos (inclusive brasileiros) assim que pisam no país.

Na França, mais de 1 milhão de trabalhadores foram as ruas pedir mais ajuda do Estado a empresas francesas. Na Grécia, fazendeiros fizeram um mega bloqueio de estradas durante dez dias exigindo a aprovação de um pacote de ajuda que desrespeita regras da União Europeia.
É só o começo.

Nos subterrâneos dessa crise, uma bomba de imensas proporções vai sendo armada no coração da União Europeia. Países menos avançados há dez anos como Portugal, Espanha, Irlanda, Grécia e vários outros no conjunto de 16 nações que têm hoje o euro como moeda só cresceram rapidamente nos últimos anos por conta de um forte endividamento. E a conta dessas dívidas chegou.

Agora, enquanto países como Alemanha, França e os escandinavos erguem pacotes bilionários de estímulo a suas economias e protegem seu sistema financeiro com dinheiro estatal, os "ex-pobres" têm não só de honrar dívidas como seus Estados e empresas são obrigados a captar dinheiro no mercado a custos punitivos na comparação com os demais.

Antes do euro, esses países em dificuldades tinham a opção de desvalorizar suas moedas e, ao tornar seus produtos mais baratos, dar forte impulso ao setor exportador. Com o euro, essa opção não existe mais, assim como não há a possibilidade de aumentarem indefinidamente déficits e endividamentos, dadas as regras de convergência da União Europeia.

Daqui em diante, todas essas assimetrias só tendem a piorar.

Na crise, prevalece o de sempre: salve-se quem puder, pelos quatro cantos do mundo.