quinta-feira, 23 de abril de 2009

Abram a porteira, o gado-torcedor pede passagem na final do Paulistinha!, por José Roberto Malia



Primeiro jogo na Vila Belmiro; segundo, no Pacaembu. Não se pode colocar em dúvida: o mando de campo é inquestionável, independentemente de a casa ser própria, alugada ou emprestada. Mas também não se pode negar: os cariocas estão morrendo de rir das finais do Paulistinha.

As duas partidas entre Santos e Corinthians devem atrair 60 mil torcedores, com muita gente saindo pelo ladrão na Vila Belmiro e Pacaembu. No Carioquinha, Botafogo e Flamengo podem levar até 160 mil pagantes ao Maracanã. Ou quase o triplo do Paulistinha.

Enquanto isso, no jardim encantado da fada madrinha repousa um Morumbi às moscas, com capacidade para 70 mil pessoas. E que cobra menos aluguel do que a prefeitura para liberar o Pacaembu.

Felizmente, e como sempre, há o outro lado da moeda. Pelos ótimos serviços não-prestados em Vila Belmiro, o ingresso mais barato custa R$ 80 - R$ 53 a mais do que o preço para assistir Los Angeles Lakers x Utah Jazz, pelos playoffs da pouco badalada NBA, de acordo com a 'Folha'.

Já a entrada mais cara na vila de beco sem saída foi fixada pelo samaritano presidente Marcelo Teixeira em parcos R$ 200 - R$ 13 a mais do que um bilhete para assistir Manchester United x Arsenal, pelas semifinais da Liga dos Campeões da Europa, no medíocre Old Trafford, também conhecido como 'teatro dos sonhos'. Um estádio tão superado que ainda permite ao torcedor chegar em cima da hora e encontrar vago o seu lugar.

Peguem o chicote e abram a porteira: o gado-torcedor continua firme e forte.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

A alma do negócio, por Roberto Vieira


O capitalismo brasileiro é um espanto.

No acumulado de 2008, o Bradesco teve lucro líquido contábil de R$ 7,620 bilhões.
Repito: O Bradesco lucrou mais de 7 bilhões de reais em 2008.

Bradesco que, em 2007, registrou o maior lucro entre os bancos de capital aberto do país nos últimos 20 anos.

Bradesco que ontem fechou as portas do volei feminino de Osasco.

No liberalismo, cada um faz o que bem entende.

O Bradesco quer acabar com sua equipe de volei?

Não tem problema.

Cada um bota seu dinheiro onde bem quer.

O Bradesco vai manter as categorias de base?

Ótimo.

Mas um fato não pode deixar de ser mencionado.

Durante todo o dia de ontem, a mídia insistia no fim do volei de Osasco.

Na importância da equipe de Osasco.

Nos riscos que corre o volei brasileiro.

Mas ninguém falava do Bradesco.

Como a propaganda é a alma do negócio.

Caso o nome Bradesco fosse mencionado em alto e bom som, o Bradesco teria perdido muito mais que os 12 milhões economizados quando despediu-se do volei.

E talvez pensasse melhor antes de bloquear seu patrocínio ao esporte nacional.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Verdadeira vestimenta

Já imaginava ter visto tudo em relação à hipocrisia hierárquica e social promovidos pelas elites brasileiras. Contudo, infelizmente, o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB) provou que a criatividade das oligarquias metropolitanas são insaciáveis.

Ao custo de R$ 40 milhões, o governo irá construir muros ao redor de 11 (onze) favelas localizadas na zona sul, área nobre da cidade. Segundo o Estado, o objetivo é conter a expansão das moradias irregulares em áreas consideradas fundamentais para a preservação ambiental.

Disse Ícaro Moreno, presidente da EMOP (empresa pública estadual responsável pelas obras nas favelas): “...apesar da estabilidade da ocupação de algumas favelas, é preciso evitar que os moradores ergam construções em áreas de risco. A sociedade da zona sul e das comunidades apoia. O desmatamento é ruim para todos. Não vejo polêmica. Há uma aversão a muros, mas muros existem em casas, condomínios e linhas ferroviárias. A minha casa é murada e meu vizinho não se sente segregado”.

O tamanho da imundície proposta corresponde, financeiramente, a construção de uma creche, um hospital e dois centros de integração e cidadania na Rocinha, ambos com restaurante e usina de reciclagem, por intermédio do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), que custarão R$ 32 milhões.

Existe, evidentemente, a questão da segurança pública em jogo. As elites morrem de medo dos pobres pretos marginalizados porque sabem, ou fingem que desconhecem, a imensa desigualdade e preconceito gerados e geridos por eles próprios. E, não satisfeitos com os muros, cercas elétricas e carros blindados, furam o sinal, “o velho sinal vermelho habitual, e ao notar um homem mijando na esquina da rua sobre um saco brilhante de lixo do Leblon”, querem segregá-los, como animais infecciosos, fétidos.

O muro separa, cria guetos e promove, fatalmente, o aumento da criminalidade organizada.

É o paradoxo perfeito.

A mesma “Cidade Maravilhosa”, orgulhosa, quando convém, do samba, do carnaval.