quinta-feira, 2 de abril de 2009

Verdadeira vestimenta

Já imaginava ter visto tudo em relação à hipocrisia hierárquica e social promovidos pelas elites brasileiras. Contudo, infelizmente, o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB) provou que a criatividade das oligarquias metropolitanas são insaciáveis.

Ao custo de R$ 40 milhões, o governo irá construir muros ao redor de 11 (onze) favelas localizadas na zona sul, área nobre da cidade. Segundo o Estado, o objetivo é conter a expansão das moradias irregulares em áreas consideradas fundamentais para a preservação ambiental.

Disse Ícaro Moreno, presidente da EMOP (empresa pública estadual responsável pelas obras nas favelas): “...apesar da estabilidade da ocupação de algumas favelas, é preciso evitar que os moradores ergam construções em áreas de risco. A sociedade da zona sul e das comunidades apoia. O desmatamento é ruim para todos. Não vejo polêmica. Há uma aversão a muros, mas muros existem em casas, condomínios e linhas ferroviárias. A minha casa é murada e meu vizinho não se sente segregado”.

O tamanho da imundície proposta corresponde, financeiramente, a construção de uma creche, um hospital e dois centros de integração e cidadania na Rocinha, ambos com restaurante e usina de reciclagem, por intermédio do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), que custarão R$ 32 milhões.

Existe, evidentemente, a questão da segurança pública em jogo. As elites morrem de medo dos pobres pretos marginalizados porque sabem, ou fingem que desconhecem, a imensa desigualdade e preconceito gerados e geridos por eles próprios. E, não satisfeitos com os muros, cercas elétricas e carros blindados, furam o sinal, “o velho sinal vermelho habitual, e ao notar um homem mijando na esquina da rua sobre um saco brilhante de lixo do Leblon”, querem segregá-los, como animais infecciosos, fétidos.

O muro separa, cria guetos e promove, fatalmente, o aumento da criminalidade organizada.

É o paradoxo perfeito.

A mesma “Cidade Maravilhosa”, orgulhosa, quando convém, do samba, do carnaval.

Um comentário:

Daniel disse...

Há quinze anos o jornalista Zuenir Ventura publicava seu livro:"A Cidade Partida". No período de dez meses esteve na favela de Vigário Geral, a fim de compreender como a sociedade brasileira tapou os olhos para seus erros.
O livro de Zuenir sugeria esse racha na cidade, com seus "mundos" díspares, mas jamais optou pela radicalização do caos. Como é o caso dos muros.
Esses onze muros, agora são a materialização da incompetência do Estado. Ou será uma medida para reativar a economia? Criando onze faixas de gaza de fuzis rentáveis.
O muro da casa de Ícaro Moreno
virou sofisma. Seu muro não foi uma medida de Estado. Mas sim um ato de proteção pelas falhas do mesmo. O paradoxo está aí.
Sobretudo, a ação implica em algum significado: "A cidade tem medo de vocês". Mas Globo novamente esqueceu-se disso. Ou vendou suas câmeras? Durante a semana reportou que se tratava de uma medida para preservação ambiental. A higiene racial (hitlirista) chegou ao Brasil.