quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Cultura e história afro-brasileira ignorados!



Apesar da evidente exclusão racial existente no Brasil, escolas públicas e particulares, discretamente, esgueiram-se sobre a necessidade de respeito à lei 10.639, promulgada em janeiro de 2003, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a qual determina a aplicação dos estudos relacionados à História e Cultura afro-brasileira nas grades curriculares escolares, discutindo assim, a África, a luta dos negros e sua cultura no Brasil e a formação da sociedade nacional a partir da contribuição negra nos diferentes prismas sociais, políticos e econômicos.

Fica evidente que a proposta tem o objetivo de combater a discriminação e oferecer à população a possibilidade de (re) conhecimento desta etnia historicamente massacrada e marginalizada. Segundo Leonor Araújo, coordenadora-geral da Diversidade e Inclusão do MEC (Ministério da Educação e da Cultura), a resolução possui a intenção deAdicionar imagem ofertar aos alunos negros a identificação necessária para que estes possam dar seguimento às políticas relacionadas e, ao mesmo tempo, sentir-se inseridos no meio intelectual, a partir de uma “nova identidade na área didático-pedagógica”, pois é flagrante que o ensino histórico mantém vínculo direto com o branco, com o europeu dominador do mundo.

Somente houve a implementação em algumas escolas públicas, mas por incentivo e comprometimento do (a) professor (a) com a proposta, e não por exigência e/ou necessidade social pedagógica diagnosticada pela direção e coordenação das escolas. Depois de cinco anos de capacitação dos docentes, mais de dez milhões de reais foram gastos e, às vésperas da “Consciência Negra” (20/11), o MEC diz que esse é o momento de procurar alterar as estruturas desse trágico quadro. É somente agora que perceberam a inevitável e essencial mudança? Concomitantemente, promotores públicos da Bahia e entidades como o CEERT (Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdade), da cidade de São Paulo, se mobilizam e entraram com ações no Ministério Público Federal com o propósito do questionamento de ações que pudessem ser tomadas.

São constantes, corriqueiras, as tentativas de demérito da raça negra, mesmo levando em consideração que a maioria da população brasileira é descendente desta etnia e “possui o pé na senzala”, como dizem por aí. São os negros, em sua maioria, quem sofrem com as filas nos hospitais públicos mal equipados, sofrem com a fome, com a violência latifundiária, com os grupos de extermínio fascistas, com o desemprego, com a violência nos grandes centros urbanos etc. Em São Paulo, por exemplo, são tão ou mais marginalizados que os nordestinos, igualmente postos de lado pelos paulistanos cuzões, detentores de “corações mesquinhos contra a solidão agreste”, votantes do Kassab, que se blindam por detrás de suas cercas elétricas e se escondem em seus carros insufilmados quando crianças, jovens e adultos figuram nos faróis fazendo malabarismos, limpando vidros, vendendo balas, chicletes ou “apenas” pedindo esmola. Fingem, somente fingem não enxergar a escancarada desigualdade existente!


Florianópolis, onde resido, abriga a população negra de modo semelhante à carioca da cidade maravilhosa: nos morros! O conservadorismo enraizado e a direita brasileira são tão cruéis e defensores de seus interesses quanto à direita venezuelana ou boliviana, as quais incessantemente articulam propostas e motins para desqualificar as políticas de seus respectivos presidentes, Hugo Chávez e Evo Morales. Podemos aqui questionar a postura “socialista” destes líderes sul-americanos e caracterizá-los como socorrentes de um modelo político do século passado o qual, infelizmente, malogrou, mas, ao mesmo tempo, não podemos retorquir a proposta esquerdizante de seus governos, os quais financiam a universalização dos serviços públicos de saúde e educação para toda a população carente com a “grana” do petróleo e do gás, garantem a comercialização dos alimentos a preço de custo, construção de moradias populares, reforma agrária que expropria todas as terras griladas por grandes fazendeiros que não conseguem comprovar a origem documental do solo e mesmo assim, respeitam as propriedades que sejam produtivas etc.

É lamentável…

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