quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Afro-cordelismo!

Aos cordelistas nordestinos
E aos negros do Brasil,
Uma singela homenagem
Espero que nada vil.

Grupos muito fortes
Bastantes trabalhadores,
Sedentos de justiça
Após demasiados açoites.

Ôxi "minino" atrevido
Ôxi cabra valente,
Atenção ao que o sinhô fala
Senão ele expulsa a gente.
Saravá, saravaô
Sai daqui, sai pra lá,
Sai que tá na hora
De canto ao Orixá!
Por Thiago Oliva.

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Escravidão é a perda
Integral da liberdade,
A pessoa passa a ser
De outro propriedade.
Um senhor, o outro, escravo,
Em total desigualdade.

O negro era vendido
Separado a família,
Os parentes espalhados
Sem ninguém saber a trilha.
Negavam o seu saber
Faziam do homem ilha.

Negavam a sua fé
O seu jeito de viver,
Obrigavam a ser cristão
Sem o negro entender.
Com a cruz e o chicote,
Pra sua força conter.

Com o trabalho forçado
A fome de cada dia,
As mais diversas torturas
Com toda essa agonia.
Vivendo no sofrimento,
A negrada resistia.

Fugiam, até matavam
O feitor e o patrão,
Organizavam a luta
Faziam rebelião.
Até se suicidavam,
Em prol da libertação.

Um meio de resistir,
Era o chamado Quilombo,
Grupos de negros fugidos,
Pra não ter peia no lombo.
Se quiser, pode chamar
Esse grupo de mocambo.
Havia grandes quilombos
Tantos de não se contar,
Eram verdadeiros reinos
Assim se pode chamar.
Trinta mil negros havia,
Em Palmares, exemplar.

O quilombo era a casa
De sofredor explorado,
E por lá também viviam
Índios e brancos coitados.
A casa de redenção,
O paraíso falado.

Plantavam milho, banana
Batata doce e feijão,
Mandioca e muito mais,
Tinham com fartura o pão.
Ao contrario da fazenda,
Quilombo mundo de irmão.

O que sobrava guardavam,
Trocavam se necessário,
Folgavam após colheita,
Duas semanas, é claro!
Trabalho em mutirão…
Trabalho comunitário.

Pescavam, também caçavam
Criavam porco galinha
As tarefas divididas
Cada um a sua tinha.
Ninguém explorava ninguém,
Todos andavam na linha.
Por lá tudo era de todos,

Não havia nem meu nem teu,
Todos viviam muito bem
Na terra que Deus lhes deu.
Bendito, louvado seja,
O povo que assim viveu.

A resistência existe
De forma bem variada,
Cada um deve fazer
Aquilo que lhe agrada.
Toda trilha da na venda,
Só não vale fazer nada.

Tem a luta pela terra,
Tem o mundo do trabalho,
Tem o dom de escrever,
Tem arte, Sem atrapalho.
Você escolhe o caminho,
Já da pra quebrar um galho!

Bata um papo com alguém,
Como se organizar!
Não precisa muita gente,
No primeiro passo a dar.
O importante é agir,
Agir sem desanimar!

Junte-se a outros grupos
Para fazer formação,
Junte-se também na luta
Em qualquer celebração.
Cuide de sua cabeça,
E jamais esqueça o coração.

Por Antônio Héliton de Santana, de "Afro-cordel".



Um lindo cordel nordestino sobre a resistência negra em Quilombo dos Palmares! Parabéns aos cordelistas (19/11), poetas, românticos, convincentes e comoventes: verdadeiros artistas do Brasil!

Ao mesmo tempo, um saravá à comunidade afro-brasileira! Devemos tornar o dia de hoje (20/11) um emaranhado de protestos contra a desigualdade racial existente no Brasil, a qual é mascarada pela elite branca aristocrata, burguesa e conservadora.

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