sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Lévi-Strauss centenário!



Sua experiência com os índios brasileiros do Centro Oeste e Norte – Cadiuéus, Bororos e Nambiquaras – possibilitou a formulação de um novo pensamento e entendimento acerca do conceito de “primitivo”. Um dos mais representativos intelectuais franceses do século XX não mais inferiorizou os indígenas, os quais até então eram apoucados aos olhos colonizadores europeus; pelo contrário, assentou-os nas mesmas bases do pensamento moderno ocidental, quando defende comportamentos invariáveis imersos em estruturas variáveis: Estruturalismo. Porquanto, é considerado, universalmente, como o fundador da Antropologia moderna, pois dizia que “O antropólogo é o astrônomo das ciências sociais: ele está encarregado de descobrir um sentido para as configurações muito diferentes, por sua ordem de grandeza e seu afastamento, das que estão imediatamente próximas do observador”.

Tal impressão intelectual se deu a partir da graduação em Direito e Filosofia na Universidade de Sorbonne, na França. Posteriormente, foi convidado pela recém-fundada USP (Universidade de São Paulo) para lecionar sociologia e assim, contribuiu em demasia para o desenvolvimento da FFLCH, um dos maiores centros pensantes do Brasil sobre Ciências Humanas.

Inclusive, o título deste blog é em homenagem a Lévi-Strauss. “Tristes Trópicos”, de 1955, é uma espécie de autobiografia do etnólogo, em que fala de certa desilusão com alguns paradigmas do pensamento civilizado europeu, principalmente em alusão ao comportamento indígena brasileiro, quando com eles esteve recluso, apesar de não ser praticante da “observação participante” e por isso, ser constantemente criticado por outros antropólogos de renome semelhante, como Malinovski e Geertz, ao julgarem-no incapaz de “entender” determinada sociedade por lá não se fazer presente. Caetano Veloso também faz menção ao antropólogo em “O estrangeiro”, quando canta “O antropólogo Claude Levy-Strauss detestou a Baía de Guanabara: Pareceu-lhe uma boca banguela”.

Em “Tristes Trópicos”, chamou-me a atenção a história de um índio Bororo. O indivíduo não denominado, que serviu de intérprete a Claude Lévi-Strauss, falava português razoavelmente bem, pois dizia ter aprendido ler e escrever, apesar de não conseguir fazê-lo naquele momento, em uma missão jesuítica. Não obstante, inacreditavelmente, os padres, orgulhosos pela eficácia na passagem da doutrina cristã, enviaram o velho índio a Roma, onde foi recebido pelo pontífice. Assim, no regresso ao Brasil e conseqüentemente à cultura Bororo, quiseram (os padres) casá-lo à maneira eclesiástica, desconsiderando todas as suas experiências e tradicionais comportamentos. Tal situação desencadeou-lhe uma expressiva crise espiritual, concomitando no resgate ortodoxo do comportamento Bororo: havia 15 (quinze) anos que encontrara totalmente recluso, pintado a vermelho, com nariz e lábio superior perfurados pelo tembetá (enfeite em forma alongada, utilizado verticalmente) e botoque (adorno facial em forma de disco ou botão que se prende a um furo no lábio e na orelha) e emplumado. Desse modo, tornou-se ainda, segundo pode acompanhar Lévi-Strauss, “um maravilhoso professor de sociologia Bororo”.

Atualmente, Lévi-Strauss vive em Paris, no mesmo apartamento há 50 (cinqüenta) anos. Em entrevista a France Presse, ao afirmar que possui uma dívida moral com Brasil, justamente por ter desenvolvido sua principal tese em terras tupiniquins, afirmou: "… vamos para uma civilização em escala mundial. Na qual provavelmente aparecerão diferenças, ao menos é preciso esperar por isso (…). Estamos num mundo ao qual já não pertenço. O que eu conheci, o que eu amei, tinha 1,5 bilhão de habitantes. O mundo atual tem 6 bilhões de humanos. Já não é o meu mundo".

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