sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Otimismo...

Em Praia Grande, litoral sul de São Paulo, após dias sem acesso à internet – utensílio pós-moderno do qual sofro em ficar distante – consegui, finalmente, vir a uma lan house e escrever o último post do ano.

2008 foi um ano cheio, mas bastante cheio de vivências sociais que poderão ensinar muito às pessoas. No entanto, infelizmente, os interesses são distintos e atrelados à incessante conquista e acúmulo de capital.

Deveríamos, se capaz fossemos, transpor ao cotidiano opressor, as inteligentes, sarcásticas e irônicas palavras de Machado de Assis. As sociedades que viveram este ano, e, consequentemente, o centenário de sua morte, seriam alvos do saudoso escritor negro.

Deveríamos, se capaz fossemos, de ultrapassar as mesmices, o tradicionalismo chato, sem graça, não melódico, melancólico e “viajar” no ritmo às vezes cadenciado, às vezes voraz, rápido, sem jeito, mas, no fim, um perfeito fraseado musical, à João Gilberto. Os mais radicais até podem discutir a proposta alienadora da Bossa Nova, a qual completou, em 2008, 50 anos, com suas composições realizadas, na maioria das vezes, de frente para o mar. Contudo, o valor musical de Tom, Vinícius e João são indiscutíveis.

Mas não! Compactuamos, mesmo que indiretamente, com a miséria, com a fome e violência que assolam o Brasil e os mais pobres e/ou emergentes. Assistimos à violência nos grandes centros urbanos como se tudo fosse normal. Milhares de jovens mortos em virtude do descaso público, que atua por intermédio de interesses particulares. Alcançamos com nossa vista muitos indivíduos vivendo em condições precárias, questionáveis até por órgãos de fiscalização sanitária que possuem os parâmetros mais contraditórios. Homens, mulheres e crianças trabalhando com o sol, invencível, sobre suas cabeças. Desidratados, esfomeados, buscando um dinheirinho qualquer que garanta a alimentação momentânea, diária, sem, contudo, a garantia do dia seguinte. Nos mobilizamos às causas “nobres” no calor das emoções, apenas. Vimos, todos, enchentes matando e arruinando a família de catarinenses, paulistas, fluminenses e mineiros. Mas, no máximo, um “Ai, meu Deus. Que desgraça!” Quando não, furtam mantimentos destinados aos desalojados.

Que fique claro, porém, que não tenho a intenção, em momento algum, de generalizar os indivíduos. Sei que existem muitos seres que procuram viver em harmonia e propagar o ideal de fraternidade e generosidade. Instituições sociais filantrópicas, Defesa Civil e seus assistentes etc.

Também foi em 2008 que a Declaração Universal dos Direitos Humanos completou 60 anos. Pois é... Será que algo mudou de forma literal? A Constituição Brasileira, neste ano que está prestes a terminar, chegou aos vinte anos. E daí! Será que os direitos, teoricamente assegurados por tais impressões, são considerados? Negros, islâmicos, mulheres, deficientes e pobres gozam dos mesmos privilégios sociais que outros?

Não sou otimista ao futuro da humanidade. Não obstante, senão nesses momentos de renovação de calendário – cristão, no caso – quando nos dispomos e prometemos integração às dietas mirabolantes com a finalidade de nos enquadrarmos em padrões estéticos ou estudar, buscar um novo emprego, para igualmente sermos mais aceitos nesta sociedade hierárquica regida pela posição social, quando seremos dispostos à solução favorável das situações, ainda que estas se apresentem da maneira mais truculenta possível?

Tentemos, em 2009, sermos fraternos e felizes!

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